HELENA TECEDEIRO, in Diário de Notícias
FMI. Duas dezenas de economias mais frágeis vão ser afectadas
Redução de trocas comerciais e de remessas de imigrantes são efeitos
A crise financeira mundial, na sua terceira vaga, está a chegar aos países pobres, depois de ter afectado os mais ricos e os em desenvolvimento. Segundo um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) ontem divulgado, estes irão sentir os efeitos sobretudo na redução das trocas comerciais com o estrangeiro e das remessas de imigrantes.
Para evitar que a situação piore, Dominique Strauss-Kahn, que preside ao FMI, apelou aos países doadores para não reduzirem as suas contribuições. É que, segundo o francês, as duas dezenas de países identificados como mais vulneráveis à crise (mais de metade dos quais da África subsariana) irão precisar de 25 mil milhões de dólares (cerca de 20 mil milhões de euros) de financiamento adicional até ao final do ano.
"Espero receber mais pedidos para empréstimos", admitiu Strauss-Kahn num almoço no think tank americano Brookings Institution. Antevendo o aumento dos problemas, o director do FMI, citado pela Reuters, sublinhou que esta situação "coloca em risco o desenvolvimento, a diminuição da pobreza e a estabilidade política que muitos países de rendimento mais baixo alcançaram nos últimos anos". E apelou aos países doadores para respeitarem os valores acordados de forma a "evitar uma crise humanitária".
Com as remessas dos imigrantes afectadas pelo abrandamento das economias nos Estados Unidos e na Europa, os países mais pobres podem ainda confrontar-se com a diminuição para metade dos investimentos estrangeiros. Para Strauss-Khan, a única fonte de alívio destas economias mais frágeis é a baixa nos preços da alimentação e combustíveis.
O FMI, que representa 185 países, tem previsto para este ano 131 mil milhões de euros em ajuda para as 38 nações mais necessitadas. Um valor que poderá chegar aos 171 mil milhões no pior cenário.
Os exportadores de matérias-primas podem ser os mais afectados pela crise. O FMI não espera que os preços destes bens subam enquanto a actividade económica continuar lenta. Strauss-Kahn pediu ainda aos dadores para cumprirem a promessa feita em 2005 de duplicarem a ajuda a África.


