por Domingos Pinto e Ana Lisboa, in RR
Problema afecta sobretudo recém-chegados. Alguns são obrigados a escolher entre aquecer a casa no Inverno ou alimentar-se.
Há casos de fome entre emigrantes portugueses recém-chegados a França e à Alemanha. A Missão Católica em Augsburgo, na Alemanha, e a Misericórdia de Paris, registam casos de grandes dificuldades.
O provedor da Misericórdia de Paris, Joaquim Silva Sousa, descreve à Renascença casos de portugueses que têm de optar entre comer ou ter aquecimento em casa no Inverno. Quem pede ajuda são sobretudo idosos reformados e emigrantes recém-chegados a França.
"Vêm e não conhecem ninguém, mas têm a coragem de tentar mudar a situação deles. Alguns conseguem rapidamente resolver a situação, outros têm mais dificuldades. A França também está em crise. Como se sabe, há muito desemprego em França”, refere o provedor.
Quanto aos idosos reformados, houve quem não tivesse feito os respectivos descontos, porque até ganhava mais, só que agora as reformas ficaram muito baixas e o dinheiro não chega para fazer face a todas as despesas.
"Temos situações de pessoas que têm de viver com 600 euros. Têm 300 para pagar a renda e outros 300 para aquecer a casa e alimentarem-se e não dá. Têm de fazer opções,:ou se alimentam ou aquecem a casa, porque depois têm de pagar as facturas da electricidade e do gás”, explica Joaquim Silva Sousa.
Todas as semanas são conhecidas duas a três novas situações, conta o provedor. “As pessoas demoram mais tempo a encontrar uma situação estável, quer quem chega, quer quem está já há mais tempo. Não temos números precisos, mas é flagrante - todas as semanas temos duas ou três novas situações”, diz Joaquim Silva Sousa.
Desde o início do ano, a Misericórdia de Paris já ajudou mais de uma centena de famílias. “Já ajudámos 125 famílias com alimentos - é uma das formas de ajudar. Outra é ver como as podemos encaminhar para as estruturas francesas, acompanhar, fazer os currículos, procurar emprego, procurar nos nossos contactos”, refere Joaquim Silva Sousa.
O problema da formação
A Missão Católica em Augsburgo, cidade alemã onde vivem dois mil emigrantes portugueses, também regista situações muito difíceis. Nesta cidade, localizada a 60 quilómetros de Munique, há sinais bem visíveis da nova vaga de emigração.
A falta de formação dos emigrantes é um problema, diz José Cabaceira, assistente pastoral na missão católica portuguesa. “É gente que em Portugal não tem grandes habilitações e depois vêm para aqui e não dá nada, claro. A maior parte não sabe uma palavra de alemão.”
Os emigrantes que chegam sem qualquer apoio, completamente à deriva, e há casos de fome que encontram na igreja a primeira respostada de emergência: “Naquilo que podemos ajudar, ajudamos. Damos comida ou um sítio para pernoitar, não durante muito tempo. Mas ajudamos para as primeiras emergências”.
Muitos dos emigrantes serão vítimas de redes que vivem do trabalho ilegal - redes de portugueses e não só, diz José Cabaceira: “Tenho quase a certeza que há gente a tentar estas coisas e a receber dinheiro e depois as coisas correm mal, claro. Redes de portugueses e não só - possivelmente têm alemães ou talvez outras nacionalidades à mistura. Mas eles não falam. Nós perguntamos mas eles não dão o braço a torcer”.