in Jornal de Notícias
O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), padre Lino Maia, disse, este sábado, que, "às vezes, parece que não é suficientemente forte a vontade de combater a pobreza, até para se cultivar a clientela".
Lino Maia defendeu essa ideia na Universidade Lusófona do Porto, onde deu uma conferência sobre o tema "Pobreza em Tempo de Crise", que intitulou "Paz, pão, habitação, saúde e educação".
"Os números da pobreza em Portugal são preocupantes", porque "cerca de 20%" da população vive ou está em risco de viver em pobreza", ou seja, com "menos de 260 euros mensais".
"Não estou muito otimista em relação aos tempos próximos", acrescentou.
Idoso e famílias numerosas são "os grupos de risco mais propícios a caírem na pobreza", por razões como o "desemprego, salários de miséria e pensões ainda mais miseráveis".
"De entre os 27 países da União Europeia, Portugal é um dos nove mais pobres, existindo cerca de 1,9 milhões de pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza, na sua maioria no Norte", continuou.
Lino Maia referiu que "a luta contra a pobreza e a exclusão social é uma causa de décadas", mas tem "resultados pouco palpáveis".
Face a este quadro por si traçado, perguntou: "Haverá vontade de fazer diminuir consideravelmente a pobreza?".
O presidente da CNIS opinou também que "uma mais justa distribuição da riqueza, com melhores vencimentos e melhores pensões sociais, fazem diminuir consideravelmente a pobreza".
Mas observou que os subsídios habituais - como o rendimento social de inserção ou o complemento solidários para idosos - para ajudar os mais necessitados "são importantes, mas não são suficientes".
"Há um grupo humano condenado à eternização da pobreza", considerou.
O presidente da CNIS realçou que "a pobreza atenua-se com medidas e algumas poderão parecer assistencialistas e não determinar eficazmente um processo autonómico dos pobres".
"Será pouco, mas também serão necessárias", ressalvou.
Na sua opinião, o combate à pobreza tem de se alicerçar em "cinco pilares: a pessoa, a promoção da autonomia pessoal e da cidadania, educação, saúde, habitação e ambiente , o regresso à terra e a família.
O regresso à terra "pode significar um regresso à realidade, à proximidade, à solidariedade, nomeadamente intergeracional, à sobriedade e à subsidiariedade".
A esse respeito, Lino Maia realçou que "Portugal tem assistido com grande indiferença e sem recursos a um permanente abandono das terras de origem, com concentração exagerada no litoral e nas duas grandes metrópoles (Lisboa e Porto), com o abandono de terras e de atividades e com a desertificação do interior".