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A crise na Grécia está a ultrapassar os limites da pobreza e há já quem fale em crise humanitária.
Estamos no bairro de Perama, perto do porto do Pireu, em Atenas. Aqui, o desemprego atinge três em cada cinco habitantes.
Este centro dos Médicos do Mundo foi criado para a população imigrante, mas hoje é usado sobretudo por gregos.
Os profissionais de saúde alertam para problemas de falta de cuidados médicos e malnutrição: “Em breve, vamos precisar de outras organizações, porque estamos a viver uma crise humanitária, uma verdadeira crise humanitária”, explica o diretor do centro, Nikitas Kanakis.
O centro foi criado há dois anos. A médica Liana Malli é testemunha da mudança do tipo de utentes. Antes, quase exclusivamente imigrantes legais ou ilegais, hoje 80% de gregos, muitas vezes sem seguro de saúde e sem dinheiro para as coisas mais básicas.
Um cenário que os Médicos do Mundo estavam habituados a ver só no Terceiro Mundo: “Há pessoas a quem dizemos que as crianças têm de ir para o hospital, porque não as podemos tratar aqui, e respondem-nos que não têm dinheiro para o autocarro, ou seja, um euro e 40”, diz a médica.
Há quem venha aqui buscar produtos alimentares básicos, como pão ou leite. Muitos são desempregados de longa duração, estão sem trabalho há cinco anos ou mais. É o caso de Antonis, que tem três filhos: “A minha filha mais nova, às vezes vai para a escola sem levar comida. Temos um problema muito sério”.
A situação é também dramática para Spiridoula Firlemi, desempregada, casada com um canalizador e com dois filhos, um de 20 anos e outro de apenas mês e meio. Vive numa casa pequna e degradada. Agora, teme que lhe cortem a eletricidade: “Chegou agora a conta da luz, são 1250 euros. Vão cortar a luz. Talvez consiga puxar a eletricidade a um vizinho, não posso deixar o bebé no frio”.
Spiridoula só quer encontrar um emprego antes do fim das ajudas sociais: “Estou dececionada com o governo, não vou votar em ninguém. Só dizem mentiras. Agora dizem que vão cortar os abonos de família a quem tem três filhos. De que serve ter filhos se eles vão passar fome”?
Os gregos vão ser chamados às urnas nos próximos meses.