António Dias Pereira, in Correio do Minho
As escolas portuguesas continuam a debater-se com elevadíssimas ta-xas de abandono e insucesso escolar. Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), publicado em fevereiro deste ano, confirma o lugar de Portugal entre os países com piores níveis de retenção: 35% (perto de um em cada três) dos jovens portugueses de 15 anos já chumbou pelo menos uma vez. A média da OCDE é de 13%. Em 40 países analisados, Portugal é o sexto com maior percentagem de retenção de alunos.
Recentemente, o Conselho Nacional de Educação (CNE), um órgão consultivo da Assembleia da República, voltou a sublinhar que o “recurso frequente à retenção em detrimento de outras medidas mais eficazes” é um fenómeno “gerador de desmotivação e abandono escolar precoce”. Segundo a CNE, a persistência desta situação “apela a uma mudança profunda na atitude dos professores e das escolas face ao insucesso dos seus alunos”.
Em face desta preocupante realidade, como podem as escolas e os professores gerar as condições para proporcionar a cada um e a todos os jovens portugueses percursos de educação e formação de qualidade numa lógica de cumprimento, com sucesso, de uma escolaridade obrigatória de 12 anos, já a partir de Setembro? Que medidas são adotadas pelas escolas e pelos professores? O que falta fazer? Que propostas e soluções?
Na maioria das escolas portuguesas dominam dois modelos de mediação e de trabalho: a turma e os pequenos grupos das aulas de recuperação e apoio. Porém, estas duas mecânicas dominantes de trabalho não são suficientes, uma vez que o insucesso escolar atual vai determinando a formação de grupos de alunos com risco elevado de exclusão escolar e social, que tendem a prevalecer e a acentuar-se com o tempo. Nestes grupos de alunos de risco elevado temos de considerar dois tipos: os que “não querem” e os que “querem mas não conseguem”. Para cada um deles, a nosso ver, torna-se necessário complementar o trabalho, que já se tem vindo a realizar nas escolas, com outros modelos de maior proximidade e alcance.
Para os alunos que “não querem” - que surgem cada vez em maior número e que a escolaridade obrigatória de 12 anos fará certamente aumentar - impõe-se às escolas, sobretudo do 2.º e 3.º ciclos, a adoção de uma mecânica de mediação-capacitação, visando dotar estes alunos de métodos de capacitação indutores de comportamentos típicos do ser aluno (disciplina pessoal, esforço, empenho, organização do trabalho, autonomia e sentido de responsabilidade), que potenciem o seu sucesso escolar e social.
Ora, a implementação de uma mecânica de mediação-capacitação implicará a formação de equi-pas mistas - docentes da turma e técnicos especializados - que terão a dupla missão de sinalizar, em tempo útil, os jovens com fatores de risco elevado em termos de sucesso escolar e ainda de conceber e implementar planos individuais de acompanhamento em proximidade e continuidade.