Por António Marujo, in Público on-line
Os bispos portugueses consideram que o desemprego é “um dos aspectos mais graves” da actual crise económica do país, num momento que “está a ser difícil para muitos portugueses”.
Numa nota do conselho permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que acaba de ser divulgada em Fátima, acrescenta-se que o direito ao trabalho “não deve ser concebido apenas como forma de manutenção económica, mas como meio de realização humana”.
Intitulado Missão da Igreja num país em crise, o documento de duas páginas foi publicado no final da reunião mensal do conselho permanente da CEP. Sexta-feira, o patriarca de Lisboa (e presidente da CEP), D. José Policarpo, afirmara estar “muito preocupado com Portugal”. Antes dele, vários bispos tinham feito, em dias consecutivos, declarações duras contras medidas de austeridade anunciadas nas últimas duas semanas pelo Governo.
Na nota, os bispos dizem que “a Igreja é sensível ao sofrimento de todos, particularmente dos mais pobres e dos desempregados, independentemente da fé que professam”. E acrescenta, sobre o desemprego, que ele “supõe um equilíbrio convergente de vários elementos: criatividade nas empresas, caminhos ousados no financiamento, diálogo social em que pessoas e grupos decidam dar as mãos, apesar das suas diferenças”.
Referindo-se aos sistemas económico-financeiros, os bispos dizem que os “lucros das pessoas, das empresas e dos grupos devem orientar-se para o bem-comum de toda a sociedade”. A nota recorda o princípio, desde sempre defendido pela Igreja, da liberdade económica, “desde que as suas concretizações se submetam aos objectivos do bem-comum.
A mesma ideia é repetida depois, quando se fala dos mercados: “Sujeitos a uma dimensão ética de serviço à humanidade”, aqueles “não podem separar-se do dinamismo económico, transformando-se em fontes autónomas de lucro que não reverte, necessariamente, para o bem-comum da sociedade”.
Noutro ponto, o texto recorda que um dos princípios básicos da doutrina social da Igreja é o da “prioridade na busca do bem-comum”: “As diferenças são legítimas, mas a unidade na procura do bem-comum é sempre necessária e indispensável. A superação das legítimas divergências, num alargado consenso nacional, supõe sabedoria e generosidade lúcida.”
Embora nunca refira os termos austeridade ou pobreza, por exemplo, os bispos dizem que é necessário haver “equidade nas soluções e na distribuição dos sacrifícios, atendendo aos mais desfavorecidos”.
Outro dos princípios defendidos na nota é o do “equilíbrio entre finanças e economia”. O conselho permanente da CEP afirma que “as finanças devem ser um instrumento que tenha em vista a melhor produção de riqueza e o desenvolvimento” e que a economia e as finanças devem ser praticadas “de modo ético a fim de criar as condições adequadas para o desenvolvimento da pessoa e dos povos”.
No texto, os bispos recordam que “a principal resposta da Igreja para o momento actual tem sido dada pelas suas instituições de solidariedade social, como prática activa da caridade”.
A nota refere ainda princípios como “a dignidade da pessoa humana, a solidariedade como vitória sobre os diversos egoísmos” que devem ser tidos em conta. E acrescenta que é precisa também “coragem para aceitar que momentos difíceis podem ser a semente de novas etapas de convivência e de sentido colectivo da vida”.
Falando da estabilidade política, a nota afirma que ela “é exigida pela própria natureza da democracia e da responsabilidade dos seus actores, requerendo a busca permanente do maior consenso social e político” e que, “numa democracia adulta, as ‘crises políticas’ deverão ser sempre excepção”, pois “podem comprometer soluções e atrasar dinamismos na sua busca”, em momentos mais críticos.
“Todos sabemos que, para superar as presentes dificuldades, não existem muitos caminhos de solução. Compete aos políticos escolhê-los, estudá-los e apresentá-los com sabedoria”, acrescentam os bispos, que pedem também o “respeito pela verdade” e a “generosidade na honestidade”.