24.7.13

'As dificuldades económicas são um entrave à manutenção dos nossos jovens na universidade'

Vânia Maia, in Visão Solidária

A VISÃO Solidária falou com o diretor executivo do Programa Escolhas, Pedro Calado, sobre o projeto U Can, que vai atribuir 50 bolsas de estudo no valor de 2 mil euros anuais

As inscrições nas bolsas U Can estão abertas até 31 de julho e destinam-se aos jovens estudantes universitários residentes nos bairros onde o Programa Escolhas atua.

Além das bolsas, os alunos também vão contar com o apoio de mentores voluntários, que os irão ajudar a gerir a sua carreira académica.

Depois de vencer a batalha de conseguir motivar muitos dos jovens apoiados pelo Escolhas a candidatarem-se à faculdade, o diretor executivo deste programa governamental, Pedro Calado, sentiu que era preciso contribuir para diminuir as dificuldades económicas que hipotecam a continuação dos estudos.

Pedro Calado destaca a "resiliência" destes estudantes e o seu efeito inspirador nas comunidades onde estão inseridos.

Quais são as condições essências para a candidatura à bolsa?
Estar matriculado num estabelecimento de ensino superior público, particular ou cooperativo é, desde logo, o primeiro requisito para que um jovem se possa candidatar às bolsas de estudo U CAN. Para além deste requisito, é importante que os jovens tenham residência num território abrangido pelos projetos locais do Programa Escolhas e que não tenham idade superior a vinte e quatro anos no ano da apresentação da candidatura. Embora seja dada prioridade a jovens que frequentam os nossos projetos, essa prioridade não é exclusiva, podendo ser alargada a quaisquer jovens que residam na área de intervenção dos mesmos. Uma vez que pretendemos apoiar jovens provenientes de contextos sociais mais vulneráveis, os mesmos não podem possuir, por si e através do seu agregado familiar, um rendimento mensal per capita superior ao valor mensal do salário mínimo nacional. Pretendemos, também, valorizar o esforço de cada estudante. Assim, os resultados escolares são levados em consideração na atribuição das bolsas, já que uma das condições de renovação anual da bolsa de estudo é o aproveitamento na maioria das disciplinas do ano curricular antecedente.

Como é que motivam os jovens a candidatarem-se à faculdade?
A motivação resulta de um trabalho intenso que é feito localmente com os jovens. Alguns dos jovens que estão agora na faculdade são acompanhados pelos nossos projetos há vários anos, o que tem permitido fazer uma intervenção muito orientada, tendo em conta o perfil, as expectativas e os interesses dos próprios jovens. Acima de tudo, a intervenção que é realizada parte sempre do pressuposto que estes jovens são capazes de, mesmo em contextos muito desfavoráveis e adversos, ter sucesso e atingir resultados positivos.

Incluir a família é fundamental?
Incluir a família em todo o processo é essencial. Sabemos que a educação e os costumes transmitidos pela família influenciam o comportamento dos jovens em qualquer local, nomeadamente no contexto escolar. A intervenção junto da família, garantindo o envolvimento da mesma em todo o trabalho de motivação para os estudos que é realizado com o jovem, é fundamental para promover a autoconfiança do jovem e para que este acredite no seu sucesso. O acompanhamento e a relação desenvolvida em família são indispensáveis para que o aluno se insira no ambiente escolar sem maiores problemas. Tem existido uma grande aposta dos nossos projetos no trabalho direto com as famílias, quer através da implementação de programas na área do desenvolvimento de competências parentais, como através da dinamização de atividades tendentes à corresponsabilização da família no processo educativo.

Mas se a inclusão da família é importante, incluir os estabelecimentos de ensino também é um processo que não pode ser descurado. Os nossos projetos tentam sempre trabalhar de forma integrada articulando as dimensões aluno-familia-escola.

Neste momento, a principal dificuldade destes jovens, e das suas famílias, é financeira?
Atualmente, as dificuldades económicas são um entrave à manutenção dos nossos jovens na universidade. O projeto U CAN surgiu da constatação de que muitos dos jovens que acompanhamos e que, com muito esforço e dedicação, conseguiram ingressar no ensino superior, estão em risco de desistência por não terem capacidade financeira para suportar as várias despesas inerentes à frequência de um curso universitário.

Perante isto pensamos: se os conseguimos motivar para os estudos e se conseguimos que obtenham bons resultados escolares, temos que encontrar uma solução para os apoiar face ao principal constrangimento atual, que é de ordem financeira. Por isso avançamos com o U CAN, para assegurar que não é por falta de condições económicas que deixam de estudar.

Aqui não podíamos deixar de mencionar todo o apoio do Barclays Bank, o qual garante uma parte do financiamento para a atribuição destas 50 bolsas de estudo universitárias.

Estes jovens acabam por influenciar a comunidade onde estão inseridos?
São um exemplo de resiliência. Um exemplo de que, com empenho e determinação é possível, mesmo em territórios muito vulneráveis, traçar percursos e projetos de vida positivos.
Muitos deles, acompanhados por nós há vários anos, tentam retribuir o apoio que foram recebendo e assumem uma postura muito ativa nos projetos e nas comunidades. Alguns deles tornam-se voluntários nos projetos Escolhas e tentam retribuir, dando a outros jovens da sua comunidade o mesmo que receberam há anos atrás: motivação, apoio e orientação!