Por Marta F. Reis, in iOnline
Investigadores não desaconselham à partida agricultura nas cidades, mas dizem que o risco para a saúde humana está ainda por avaliar
As hortas urbanas são cada vez mais populares, mas estiveram agora pela primeira vez debaixo da lupa de investigadores do departamento de Química da Universidade de Aveiro. Com base em amostras recolhidas na zona do Porto, os resultados são para já um sinal amarelo: os níveis de alguns metais, como cádmio, cobre, chumbo e zinco ultrapassaram os valores registados em áreas naturais longe de fontes de contaminação - como estradas ou aeroportos -, mas também excederam os patamares máximos definidos pela União Europeia.
A análise dos solos revelou que pelo menos duas amostras de azevém - que serve de pasto a animais e que poderá entrar na cadeia alimentar dos portugueses - superaram o limite da concentração de cádmio em forragens estabelecido numa directiva comunitária de 2002. Ainda sem estudar a questão da ingestão humana de produtos plantados à beira da estrada, os investigadores fizeram incidir a sua investigação nos alimentos consumidos por vacas e ovelhas nesse locais ou noutros marcadamente urbanos. No caso das vacas, a ingestão diária parece exceder os limites de cobre em sete locais e os limites de chumbo em oito. Os cientistas dizem que é preciso avaliar a exposição efectiva de animais aos pastos cultivados nas cidades, assim como os riscos para a saúde humana. Trabalho que está por fazer no país.
"Pretendemos alertar para o facto de não haver critérios de qualidade definidos para os solos portugueses", explicou ao i Sónia Rodrigues, uma das autoras do estudo publicado este mês na revista "Applied Geochemistry" e em 2012 na revista "Environment International".
Não haver limites faz com que os investigadores tenham de se guiar pela literatura internacional e por directivas comunitárias em vigor, que podem não reflectir as especificidades dos solos portugueses. "A definição de limites é urgente e crucial para áreas urbanas e não só. Também é necessário em áreas industriais e de exploração mineira onde estejam implementadas práticas agrícolas."
A investigação foi desenvolvida no âmbito de uma tese de mestrado e de um projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e pelo Programa Operacional Factores de Competitividade - Compete, que decorre até ao final deste ano. Ao todo, receberam 199 mil euros, o que permitiu garantir o trabalho de dez investigadores e recolher 250 amostras de solo e plantas em todo o país, em particular do Grande Porto e de zonas rurais, florestais, industriais e mineiras, usadas para comparação. Sónia Rodrigues conta que, para já, não se desaconselha a agricultura em áreas urbanas, mas recomenda-se uma avaliação cuidada dos níveis de contaminantes.