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A Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome (FPBACF) e a associação Entrajuda iniciaram hoje um projecto de colheitas agrícolas 'solidárias', numa lógica de combate ao desperdício.
O programa começou na Golegã, nos campos da Cooperativa Agromais, representante de um vasto conjunto de produtores que, aquando da colheita, são obrigados, por falta de valorização comercial, a deixar nos campos produtos com menores calibres ou ligeiros defeitos.
"Este programa visa combater o desperdício alimentar e vem retomar uma prática ancestral, conhecido em português como restolho ou rabisco, configurando-se como uma segunda colheita, para que nada se perca", disse à agência Lusa a presidente da Federação dos Bancos Alimentares, Isabel Jonet.
A responsável explicou que nos Estados Unidos, por exemplo, ficou consagrado na Constituição o direito de as pessoas poderem ir às searas apanhar os alimentos que as ceifeiras não conseguiam recolher e deixavam para trás.
Das 400 mil toneladas por ano de hortofrutícolas produzidas nos campos da Agromais, 5% a 10% são desaproveitadas.
"É uma brutalidade", vincou, observando que se estima que na Europa cerca de 89 milhões de toneladas de alimentos sejam desperdiçados por ano, em toda a cadeia alimentar, entre a produção, transformação, distribuição e consumo.
"A redução do desperdício alimentar é, hoje em dia, um tema central nas agendas das instituições europeias", lembrou. Por isso, o objectivo da campanha é "aproveitar esses produtos para a alimentação humana e, através dos Bancos Alimentares, encaminhá-los para quem deles mais necessita".
A dirigente afirmou que a primeira acção do projecto decorreu de forma "fantástica", com o apoio e participação cívica de dezenas de funcionários de uma empresa de telecomunicações que estiveram nos campos do Ribatejo a recolher produtos hortofrutícolas, e adiantou que o programa 'Restolho' é para estender a todo o país.
"Para a semana vamos estar numa acção semelhante no Algarve e temos dezenas e dezenas de agricultores e cooperativas que são nossos parceiros no projecto", notou.
Isabel Jonet disse ainda que a Federação de Bancos Alimentares Contra a Fome vai apelar às bolsas de voluntariado existentes no país para participarem no projecto, e anunciou o lançamento de um programa especial que vai permitir a inclusão de desempregados.
"Era bom o regresso aos campos para os desempregados ou para as pessoas que estão inactivas, assim como era bom que as praxes universitárias contemplassem a participação neste programa", desafiou.
Lusa/SOL