Daniel Ribeiro, correspondente em Paris, in Expresso
A comunidade cigana volta a ser alvo de inquietantes ataques em França.
O deputado de centro-direita e presidente da Câmara de Cholet (oeste de França), Gilles Bourdouleix, provocou ontem um enorme escândalo.
Exasperado com algumas dezenas de ciganos que o injuriavam e protestavam contra a sua política, desabafou da pior maneira: "Parece que Hitler não matou os suficientes", disse.
Ameaçado com um processo judicial por apologia de crime contra a Humanidade, Bourdouleix vai ser afastado do partido centrista, UDI (União dos Democratas e Independentes), e certamente ser proibido de exercer os seus cargos públicos.
A afirmação do deputado, que foi gravada por um jornalista de um jornal regional, surge num contexto delicado por se verificarem desde há algum tempo incidentes regulares com ciganos em todo o país. Diversos acampamentos de ciganos, muitos deles com nacionalidade francesa, têm sido desmantelados nos últimos tempos um pouco por toda a França - hoje, terça-feira, foram destruídos mais dois, um em Marselha e outro na região parisiense.
Mas a declaração de Bourdouleix é sobretudo o ponto mais alto de uma inacreditável escalada verbal anti-ciganos. No inicio deste mês de julho, Jean-Marie Le Pen, fundador do partido nacionalista, Frente Nacional, atualmente dirigido pela sua filha, Marine, disse que os ciganos lhe provocam "urticária" e denunciou a sua "presença odorante" em certas regiões francesas. Dias mais tarde, Christian Estrosi, deputado da UMP (União para um Movimento Popular, de direita) e presidente da Câmara de Nice, apelou à revolta das autarquias contra a instalação de acampamentos ciganos nas suas áreas.
Durante o mandato do anterior presidente, Nicolas Sarkozy, a sua política de expulsão de ciganos de França, sobretudo de nacionalidade romena, provocou grande celeuma.
De acordo com estatísticas citadas pelo jornal "Le Monde", mais de 500 mil ciganos foram executados pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial.