in Jornal de Notícias
O papa Francisco, que se encontra, esta segunda-feira, em viagem para o Brasil, insistiu "no risco" de ver toda uma geração de jovens sem trabalho, ao mesmo tempo que criticou "a cultura de rejeição" dos idosos.
"A crise mundial nada fez pelos jovens. Corremos o risco de ter uma geração sem trabalho, e do trabalho provém a dignidade da pessoa", sublinhou o primeiro papa sul-americano da história, perante os jornalistas que o acompanham no avião com destino ao Rio de Janeiro.
Francisco, que prega desde que foi eleito uma "Igreja pobre para os pobres", vai chegar a um país onde os jovens realizaram manifestações em massa, em junho, por vezes violentas, contra a incompetência dos serviços públicos e a corrupção.
"O objetivo da minha viagem é encorajar os jovens a viverem inseridos no tecido social com as pessoas de idade", acrescentou o papa argentino, numa crítica à "cultura de rejeição dos idosos, que transmitem a sabedoria da vida".
Para o papa, de 76 anos, os jovens "são o futuro dos povos, mas não apenas eles".
"No outro extremo da vida, as pessoas idosas têm a sabedoria da vida, da história, da pátria e da família, de que precisamos", sublinhou.
Antes desta intervenção, o papa cumprimentou cada um dos 70 jornalistas a bordo do avião, afirmando não gostar de dar entrevistas. E antes da partida, Jorge Bergoglio garantiu que não faria qualquer declaração no avião, mas acabou por pedir "a colaboração" dos jornalistas na defesa "dos jovens e dos idosos".
Esta é a primeira viagem ao estrangeiro do jesuíta argentino que em março sucedeu a Bento XVI na chefia da Igreja católica, também em crise, minada sobretudo por escândalos de pedofilia.
"Chego ao Brasil dentro de algumas horas e o meu coração está cheio de alegria porque em breve estarei junto de vós" para celebrar a 28.ª edição das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), disse o papa numa mensagem divulgada na rede social Twitter, logo após a partida.
Cerca de 1,5 milhões de peregrinos de todo o mundo são esperados nesta ocasião, no Brasil, o maior país católico do mundo.
O papa deve chegar às 16 horas (20 horas em Lisboa), ao aeroporto internacional do Rio, onde será recebido pela presidente brasileira, Dilma Rousseff.
Francisco, que renunciou ao 'papamóvel' blindado, vai saudar a multidão no centro do Rio, a bordo de um jipe descoberto.
Durante a estada, o papa vai visitar uma favela e uma unidade hospitalar para toxicodependentes de 'crack', tendo ainda previsto encontros com detidos.
Movimentos de ateus e militantes de 'Anonymous' Rio convocaram manifestações para protestar, desde a chegada do papa, contra as despesas públicas (mais de 30 milhões de euros) criadas pelas JMJ.
O movimento 'Anonymous' convocou uma segunda manifestação para sexta-feira, na praia de Copacabana, no percurso do calvário das JMJ.
"Não é contra a Igreja católica. É mais um grito contra a corrupção e por serviços públicos dignos", explicou o grupo na página da rede social Facebook.
As autoridades brasileiras destacaram 30.000 polícias e militares para garantir a segurança do papa e das JMJ, na "maior operação de segurança da história do Rio" de Janeiro, de acordo com a agência noticiosa francesa AFP.