29.7.13

Há 30 anos que não se consumia tão pouco

por Ana Serafim, in Sol

Há pelo menos 30 anos que os portugueses não cortavam tanto no consumo de produtos básicos como leite, fruta ou pão. No primeiro semestre deste ano, a compra de bens de grande consumo caiu 3,7%, mesmo que as idas às compras até tenham tido uma ligeira subida de 0,3%, indicam dados da Kantar WorldPanel, que analisa 4.000 lares de Portugal continental.
De cada vez que os consumidores foram ao supermercado, o volume de artigos postos no carrinho diminuiu 4,9%. “É a primeira vez que temos uma queda desta magnitude no volume dos produtos de grande consumo. Este é o sector que mais resiste à crise. Deve ser a quebra mais acentuada dos últimos 20 ou 30 anos”, refere Paulo Caldeira, um dos directores da consultora.

Desde o final de 2011 que estas categorias de artigos já davam sinais de quebra, mas nunca tão acentuada. Nas últimas décadas, os bens de grande consumo até haviam ganho preponderância, com a diversificação da oferta.

“Este já é um ajuste muito importante das famílias. Não estamos a falar de comprar menos roupa ou carros. Estamos a falar do que é básico, onde 84% é alimentação”, reforça a outra directora, Sónia Antunes.

A análise semestral da Kantar mostra que o consumidor português está em ‘modo de sobrevivência’: compra o essencial, foca-se na alimentação, corre pelos melhores preços e promoções, reduz stocks e gastos supérfluos. Por cada acto de compra, a aquisição de azeite caiu 25,7%, a farinhas diminuiu 12%, a de pão 9,5%, e a de fruta 7,4%.

Feitas as contas, a quebra do volume consumido em Portugal já alcançou a da Grécia, cujo pico da queda do consumo destes bens (-3,9%) aconteceu no segundo semestre de 2012. Na Irlanda, a maior redução foi de 1,5%, no primeiro semestre de 2011, e a maior quebra em Espanha – que actualmente já não está a perder volume nos bens de grande consumo – foi de 1,1%.