19.7.13

Austeridade dos pais leva à pobreza dos filhos

Por Notícias Ao Minuto

O professor de Economia Mark Blyth já não pode ouvir falar em apologias da austeridade e é tão crítico do modelo que escreveu um livro a desconstruí-lo. O escocês, a dar aulas nos Estados Unidos, afirma, em entrevista à Rádio Renascença, que "em nome de não deixar dívida aos nossos filhos, cortamos a economia de hoje para ter a certeza que eles crescem na pobreza".

‘Austeridade - A História de Uma Ideia Perigosa’ é o nome do livro do especialista em economia Mark Blyth e tem o objectivo de ‘desmontar’ a ideologia usada pela maioria dos países em dificuldades, como Portugal. Para o académico, “em nome de não deixar dívida aos nossos filhos, cortamos a economia de hoje para ter a certeza que eles crescem na pobreza”.

“Quando ouço o argumento seguinte fico muito zangado: 'Precisamos de lidar com a dívida agora porque, se não o fizermos, vamos deixá-la para os nossos filhos'", conta Mark Blyth, acrescentando que o argumento é hipócrita, pois a austeridade “faz os pais de hoje mais pobres, encolhe a economia e torna as perspectivas dos nossos filhos e netos muito piores do que seriam”.

Mark Blyth lembra que, por Portugal ter gasto demais, alguém teve de emprestar em demasia, “De onde vem o dinheiro?”, questiona, colocando o dedo na ferida da dicotomia entre o Norte e o Sul da Europa, e sublinhando que os grandes exportadores, na maioria no Norte, “exportam mais, mas não gastam o suficiente domesticamente”.

Na opinião do economista, é este facto que leva os países ricos a guardar o dinheiro nos bancos, que então compram dívida de países como Portugal. “Isto aumenta a disponibilidade de crédito, para que os portugueses possam comprar carros alemães”, frisa.

“Porque é que não há ninguém a castigar o Norte por poupar e exportar em demasia?”, critica Blyth, dando imediatamente a justificação de que a mentalidade desses países é: "'Nós poupamos e fazemos coisas que as pessoas gostam, por isso não é nossa culpa que vocês se endividem para comprar as nossas coisas'”.

Segundo o especialista, o problema português é estrutural mas também é mais grave devido aos condicionalismos da crise que também se abateu sobre outros países da zona euro. O economista defende ainda que se há capacidade para pagar a dívida, deve-se fazê-lo e é possível que se cresça de forma mais rápida. Mas, continua Blyth, “se não há a capacidade para pagar a dívida, porque se está numa recessão, e se tenta fazê-lo, o que acontecerá simplesmente é que se ficará com mais dívida porque a economia encolheu”.

“Quando tens muitos países com a mesma moeda a tentar fazer isto ao mesmo tempo, isso é austeridade. Torna-se algo que se derrota a si mesmo. Acabas com mais dívida, mais desemprego e uma economia mais pequena. É por isso que não funciona”, remata o autor de ‘Austeridade - A História de Uma Ideia Perigosa’.