in Jornal de Notícias
A organização Oxfam International alerta que se prosseguirem as medidas de austeridade na Europa podem cair em situações de pobreza mais 15 a 25 milhões de pessoas até 2025, num relatório divulgado pela organização.
No relatório "A cautionary tale: The true cost of austerity and inequality in Europe" ('Um conto moral: o verdadeiro custo da austeridade e da desigualdade na Europa'), a organização de luta contra a pobreza defende que o caminho da austeridade já foi usado no passado noutros países e "falhou", pelo que "não pode acontecer novamente".
"Em 2011, 120 milhões de pessoas na Europa enfrentaram as perspetivas de viver em pobreza. A Oxfam calcula que isto possa aumentar em pelo menos 15 milhões e até 25 milhões, em resultado das medidas contínuas de austeridade", o equivalente à população da Holanda e da Áustria juntas, lê-se no documento, que refere que "as mulheres vão ser as mais afetadas".
"Se as tendências atuais se mantiverem, alguns países na Europa vão ter em breve níveis de desigualdade que vão estar entre os mais elevados no mundo", advertem os autores do documento, acrescentando que pode demorar entre 10 a 15 anos para que os níveis de pobreza voltem aos registados antes de 2008.
A Oxfam, fundada em 1995 por 17 organizações não governamentais, estima que, mantendo-se as políticas focadas sobretudo na consolidação orçamental nos países europeus, os cidadãos vão ter perdas salariais reais durante muitos anos e que "a erosão da capacidade de negociação coletiva dos contratos de trabalho e dos direitos laborais vai criar condições para a manutenção de uma tendência crescente do trabalho na pobreza".
Para explicar que "isto não tem de ser assim", a Oxfam evoca as crises das décadas de 1980 e 1990 na América Latina, as crises da última década do século passado na África subsaariana e a do final dos anos 1990 no sudeste asiático para apontar as lições que a Europa deve aprender com o passado.
"A Europa devia aprender duas lições importantes com as crises de dívida anteriores noutras regiões: que uma dívida insustentável é uma dívida impagável, que exige um processo de arbitragem justo e transparente que possa incluir uma reestruturação alargada ou o cancelamento da dívida, e que quanto mais cedo a espiral de crescimento da dívida for atacada pelos Estados-membros e pela União Europeia melhor", alerta a Oxfam.
Além disso, a instituição considera que são precisas "intervenções públicas corajosas que ataquem as verdadeiras causas da crise, com o objetivo de ter um mundo mais justo e mais igualitário".
Neste sentido, a Oxfam deixa quatro recomendações aos governos europeus: investir nas pessoas e no crescimento económico, investir nos serviços públicos, reforçar a democracia institucional e construir sistemas fiscais justos.
No prefácio do documento, Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia e antigo economista-chefe do Banco Mundial, afirma que "a onda de austeridade económica que varreu a Europa corre o risco de provocar danos sérios e permanentes ao modelo social do continente".
"Como economistas, incluindo eu próprio, temos há muito previsto que a austeridade só tem penalizado o crescimento da Europa (...) Pior: está a contribuir para a desigualdade que vai tornar as fraquezas económicas mais duradouras e contribuir, desnecessariamente, para o sofrimento dos desempregados e dos pobres por muitos anos", antecipa.