12.9.13

Desemprego, uma fatalidade?

Francisco Sarsfield Cabral, in Sol

O desemprego baixou um pouco em Portugal. Mas está ainda em níveis inaceitáveis.
É, sobretudo, o efeito da austeridade imposta pela troika para tentar ultrapassar desequilíbrios de fundo – como o défice externo (já praticamente eliminado, embora ainda não de forma estrutural) e o défice orçamental, cuja redução tem sido lenta, porque a austeridade excessiva é contraproducente (a recessão diminui a receita fiscal de vários impostos).

Mas outros factores contribuem para a subida do desemprego, embora não seja fácil quantificar a sua influência. Por exemplo, a impossibilidade de os exportadores nacionais continuarem a competir com base em baixos salários, face aos salários baixíssimos da China e de outros países, levou à extinção de indústrias trabalho-intensivas em Portugal. Surgem actividades tecnologicamente mais valorizadas, mas que empregam menos gente. Por outro lado, a enorme saída de trabalhadores do sector agrícola, sem que este baixasse a sua produção (pelo contrário, aumentou-a), revela que ali havia muito sub-emprego.

Será, então, que os avanços tecnológicos, com a automatização crescente, levam inexoravelmente ao aumento do desemprego? Não é um problema novo. Em 1786, em Leeds (Grã-Bretanha), operários dos lanifícios destruíram máquinas que lhes tiravam trabalho.

Era o início da revolução industrial, que – a prazo – iria criar muito mais empregos do que os inicialmente eliminados pelas máquinas. E faria subir de forma espectacular o nível de vida dos países que conseguiram industrializar-se. Só que, entretanto, muita gente ficou pior, como se lê nos romances de Charles Dickens.

Duas questões se colocam agora. Serão as novas tecnologias, como a informática, capazes de criar novos empregos, como criou a revolução industrial? E estará o chamado Estado social (inexistente há cem anos) em condições de apoiar aqueles que ficam desempregados e não têm condições para desempenhar novas e mais sofisticadas tarefas?

Não vejo razão para que a automatização generalizada não acabe por suscitar novas necessidades em bens e serviços, logo novos empregos. Mas há alguns indícios preocupantes. Como Paul Krugman notou recentemente, o desemprego começa a atingir, hoje, pessoas altamente qualificadas. Portanto, o problema não se resolve apenas com melhor educação, como se pensava até há pouco.

A resposta de Krugman é o reforço da rede social de protecção, incluindo um rendimento mínimo garantido (coisa desconhecida na sociedade americana). Mas, aqui, Krugman não está a responder apenas ao desemprego tecnológico. Está, sobretudo, a encarar o aumento da disparidade de salários e outros rendimentos que se regista nos EUA e noutros países, desde há 40 e tal anos.

O capitalismo industrial foi um democratizador económico. Transferiu milhões do proletariado para a classe média. Mas a tendência inverteu-se: no actual capitalismo financeiro a parte do trabalho no rendimento nacional americano tem vindo a diminuir, enquanto a parte do capital aumenta.

Com o envelhecimento das populações, o Estado social entrou em crise financeira um pouco por toda a parte. Assim, para fazer aquilo que Krugman aconselha será preciso subir os impostos sobre lucros e outros rendimentos do capital. Não será fácil.

P.S. Esta coluna vai para férias. Regressa no início de Outubro.