12.9.13

Idosos adiam ida para o lar para ajudar filhos com as pensões

in Sol

O presidente da Obra Social Padre Miguel, em Bragança, denunciou hoje que a crise está a obrigar os idosos a adiarem a ida para os lares para poderem ajudar os filhos com as pensões.

"O que se começa a verificar agora com muita frequência é a grande dificuldade de os idosos virem [para o lar] porque têm que ficar em casa para ajudar os filhos", contou à agência Lusa o presidente Nuno Álvaro Vaz.

A Obra Social Padre Miguel é uma das maiores instituições de solidariedade do distrito de Bragança com várias valências, incluindo um lar social que, quando abriu, há quatro anos, tinha em lista de espera quase o dobro dos 60 utentes que pode acolher.

Nos dias de hoje, "muitos que estão inscritos dizem 'ainda é cedo e coisas do género'" quando surgem vagas, o que, para o presidente da Obra, se deve à necessidade de ajudarem os filhos, muitos desempregados ou com redução de rendimentos, com as reformas que pagariam o lar.

E como "estão sempre a ser assustados com mais um corte e outro corte, o que acontece é que ponderam muito antes de dar o passo", acrescentou.

A retracção de utentes, somada ao aumento dos pedidos de ajuda, leva a que este seja um "período de dificuldade para as instituições", que "tentam diminuir o desperdício e eliminar despesas" para equilibrar as contas.

O desemprego é a principal causa apontada pelo dirigente para muitas das dificuldades actuais e o responsável por outro problema social com que estas instituições estão confrontadas.

"Nós devemos ter aí mais de três mil currículos. É uma quantidade de currículos a toda a hora, é pais a chorar e eu fico triste", desabafou, partilhando o "desgaste" que esta realidade provoca nos dirigentes por não poderem ajudar toda a gente.

Nuno Álvaro Vaz garantiu ainda que são instituições como a que dirige que hoje em dia estão "a dar de comer a muita gente que de outra forma passaria fome".

A Obra Social Padre Miguel foi fundada em homenagem ao patrono, reconhecido em Bragança pelo trabalho que desenvolveu, há mais de 40 anos, junto das crianças pobres da zona histórica da cidade.

A instituição começou por realizar campanhas no Natal e na Páscoa, com a distribuição de cabazes com bens essenciais aos carenciados.

O projecto ganhou dimensão até à construção do complexo que reúne várias valências sociais, desde lar de idosos, a refeitório social, apoio domiciliário, creche e outros serviços à comunidade, contabilizando mais de 200 utentes.

O complexo emprega 98 pessoas e dispõe ainda da chamada parte residencial para idosos com condições financeiras para adquirirem uma residência vitalícia.

Os rendimentos gerados por esta vertente contribuem, segundo o responsável, para o social, cumprindo o lema da instituição "quem pode a quem precisa".

Lusa/SOL