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Contactada pela Lusa, Maria Oliveira, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, adianta que as situações que têm chegado à APAV passam-se na zona de Lisboa
Muitos idosos que vivem em quartos alugados são tratados de “forma desumana” pelos donos das casas, que lhes impõem “regras duras”, impedindo-os de terem “uma vida tranquila”, alerta o médico Luís Nunes.
“É um outro tipo de agressão que recentemente começou a ser referenciado e diz respeito aos idosos (viúvos, divorciados ou solteiros) que vivem em quartos alugados, sobretudo nas grandes cidades”, afirma Luís Nunes no livro “O bem-estar, a qualidade de vida e a saúde dos idosos”.
“Os donos das casas tratam-nos mal, exigem tudo e impõem regras, como só poderem ir à casa de banho duas ou três vezes por dia e tomarem banho uma vez por semana”, diz à Lusa o médico, que tem trabalhado em várias hospitais e centros de saúde.
Com estas regras, os idosos ficam “limitados e diminuídos”, mas “vão vivendo assim maltratados”, porque muitos estão longe da família e não têm alternativa, sublinha.
Contactada pela Lusa, Maria Oliveira, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, adianta que as situações que têm chegado à APAV passam-se na zona de Lisboa.
Os idosos são vítimas de vários tipos de violência, principalmente da física, psicológica e financeira, que levam “a situações traumáticas”, lembra a técnica.
Um estudo do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge, que estimou pela primeira vez a prevalência da violência contra idosos, refere que, entre outubro de 2011 e outubro de 2012, cerca de 314 mil pessoas com 60 e mais anos foram vítima de, pelo menos, uma "conduta de violência" por parte de um familiar, amigo, vizinho ou profissional.
No caso da conduta de trancar a pessoa no quarto ou impedir o acesso a toda a casa, mais de um terço das vítimas inquiridas referiu mais de 10 incidentes, 37,5% referenciou entre duas a 10 ocorrências e 26,6% reportou uma única ocorrência.
Maria Oliveira adverte que “as pessoas têm de ter liberdade de circulação” e se estiverem confinadas a um espaço podem estar a ser vítima de sequestro.
“Enquanto censuramos determinados comportamentos em relação às crianças e às mulheres vítimas de violência doméstica, em relação às pessoas idosas ainda há muita permissividade para este tipo de situações de violência”, lamenta.
Maria Oliveira explica que, “muitas vezes”, os idosos não se veem como vítimas de um tipo de violência e mantêm-se naquela situação porque “preferem estar numa realidade que conhecem do que ir para o desconhecido”.
“Falamos muito da dependência financeira, mas muitas vezes é dependência emocional”, diz a técnica da APAV.
Apesar das várias campanhas que a APAV tem realizado, Maria Oliveira diz que “ainda há muito a fazer”.
Defende que tem de ser realizado para os idosos um percurso idêntico ao que foi feito para as mulheres vítimas de violência doméstica.
“Há que trabalhar com as pessoas idosas”, com os jovens, que serão os futuros cuidadores, com os profissionais de saúde e da educação e “sensibilizar a comunidade em geral para denunciar estas situações, porque não podemos continuar a olhar para o lado”, remata Maria Oliveira.
Segundo dados da APAV, mais de 11.300 idosos, a grande maioria mulheres, foram vítimas de violência doméstica nos últimos 12 anos, um número que tem vindo a aumentar todos os anos.