Por Rosa Ramos, in iOnline
Projecto ensinou novas tecnologias a jovens da Bela Vista, Monte da Caparica e Vale de Cambra. Objectivo é o empreendedorismo
Basta uma pesquisa no Google para confirmar a fama do Bairro da Bela Vista em Setúbal. Os primeiros resultados são notícias de tiroteios, confrontos com a polícia e episódios de violência. Mas dentro de pouco tempo é possível que a pesquisa devolva um resultado diferente. Nove jovens criaram um jornal online para mostrar o "outro lado" da Bela Vista. O primeiro número de "O Bairro" ficou disponível anteontem e é o resultado de um dos três projectos-piloto que o CDI Portugal - Centro de Inclusão Social desenvolveu em bairros considerados problemáticos.
O objectivo é apostar na inclusão de jovens entre os 11 e os 25 anos através do ensino da tecnologia e da literacia digital, dotando-os de ferramentas para entrarem no mercado de trabalho e fomentando o empreendedorismo. Além da Bela Vista, o projecto chegou a Vale de Cambra, onde um grupo de rapazes aprendeu a fazer estampagem de têxteis. O curso de 60 horas teve tanto sucesso que a turma avançou para a criação de uma microempresa e já vende os trabalhos na internet. Mais a sul, no Monte da Caparica (Almada), outros cinco jovens preparam-se para organizar um festival virado para a diversidade cultural e o meio ambiente. Antes disso, e dentro de dias, será lançado um site que conta a história do bairro onde cresceram e das várias culturas que aí coexistem.
Domingas Santos faz parte do grupo e conta que o mais difícil nos últimos meses foi conciliar as agendas dos jovens que aceitaram o desafio do CDI. Domingas tem 22 anos, está a terminar o 12.o ano e trabalha para pagar os os estudos. Conta que vive no Monte da Caparica com os pais e uma irmã mais nova, mas a reforma do pai não chega para tudo. As dificuldades económicas são aliás comuns à maioria dos jovens envolvidos no projecto. Durante 60 horas, juntaram-se no centro Porta Amiga, de Almada, para aprender a trabalhar com novas tecnologias. E ontem o grupo recebeu os diplomas de final de curso numa cerimónia na Fundação das Comunicações, em Lisboa, que serviu igualmente para apresentar o projecto CDI na Bela Vista.
Idalécio Gomes, um dos rapazes que participam no projecto de Setúbal, espera que o jornal online possa vir a tornar--se sustentável para poder ficar a trabalhar no bairro. A família, guineense, foi uma das primeiras a mudar-se para a Bela Vista. Idalécio conseguiu entretanto entrar para a faculdade, está no primeiro ano do curso de Artes Visuais e Tecnologias, quer trabalhar em informática e gostava de continuar a morar no bairro. "Na zona de Setúbal não há emprego e eu queria muito ficar na Bela Vista. Foi lá que nasci e cresci", explica.
O CDI é uma organização não governamental que promove a inclusão social através da tecnologia e, em Portugal, é apoiado pela Fundação Portugal Telecom e pela Microsoft. Terminados os três primeiros projectos, está já a decorrer um outro com jovens do bairro da Musgueira, em Lisboa. "Acreditamos que podemos mudar o mundo através da tecnologia", resumiu ontem o director-executivo do CDI Portugal, João Barracho.
Bela Vista
A ideia inicial era criar uma rádio, mas o grupo de nove jovens do CDI de Setúbal acabou por apostar no desenvolvimento de um jornal online. Chama-se “O Bairro”, está disponível desde segunda-feira e quer dar a conhecer ao mundo o “outro lado” da Bela Vista, bairro conhecido por ser problemático. O curso de inclusão digital começou há três meses e o grupo vai começar a trabalhar, em breve, no projecto da rádio.
Almada
Criaram um site que pretende reflectir sobre a necessidade de promover o convívio e o respeito entre culturas diferentes e preservar o meio ambiente. Mas os cinco jovens do bairro Monte da Caparica que abraçaram o projecto do CDI querem ir mais longe e apostar na organização de um festival dedicado à reciclagem e à música e a gastronomia de culturas diferentes. O projecto está feito, só falta encontrar um espaço.
Vale de Cambra
O primeiro projecto do CDI – Centro Digital de Inclusão já está a dar frutos. Oito rapazes juntaram-se para criar uma microempresa de estampagem de têxteis com loja online. Têm entre 12 e 21 anos e tiveram o apoio do Centro de Acolhimento Temporário (CAT) da Cruz Vermelha de Vale de Cambra. A empresa chama-se DOC – Design Official Center e foi criada na sequência da formação do CDI que começou em Setembro.