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O antigo ministro das Finanças Eduardo Catroga entende que chegou a hora da verdade e independentemente do programa da 'troika' ou de um programa cautelar, o rigor nas contas públicas e nas reformas estruturais é o caminho a seguir.
"Chegou a hora, com ou sem programa da 'troika', com ou sem programa cautelar, chegou a hora da verdade. Temos de mudar de vida de forma permanente na gestão das finanças públicas e na gestão das variáveis estruturais que têm a ver com a produtividade, com o crescimento e o emprego", sublinha em entrevista à Lusa o último ministro das Finanças de Cavaco Silva.
E este é um caminho que Eduardo Catroga recusa classificar como uma condenação à austeridade. "O que é austeridade. É viver de dívidas, viver à custa de financiamento alheio", interroga-se o economista, concluído que "o regresso a esse passado não será mais possível nos próximos 10, 20 anos".
Eduardo Catroga lembra que nos últimos 12 anos o Estado recebeu em receitas extraordinárias 21 mil milhões de euros e em receitas de privatizações, desde 1987, encaixou 35 mil milhões de euros.
"Nos últimos 15 anos utilizámos, queimámos, 21 mil milhões de euros de receitas extraordinárias e mais 35 mil milhões de euros de receitas de privatizações. São montantes que não podemos contar nos próximos anos", lamenta o economista.
Assim, a receita para garantir um crescimento sustentável e que permita gerir a dívida, passa
Nos últimos 15 anos utilizámos, queimámos, 21 mil milhões de euros de receitas extraordinárias e mais 35 mil milhões de euros de receitas de privatizações. São montantes que não podemos contar nos próximos anos
Eduardo Catroga
por "introduzir uma política de rigor nas finanças públicas a título permanente" e interiorizar que é preciso "aprofundar as reformas estruturais necessárias para aumentar o crescimento potencial, a competitividade e o emprego".
E para o economista esta é uma questão que não passa por ideologia: "é uma questão de aritmética".
Segundo Eduardo Catroga já há, inclusive, sinais positivos do lado da estrutura produtiva em vários sectores e "há projectos empresariais em desenvolvimento com muito valor" e agora o desafio "é multiplicar o número de casos de sucesso".
"Há sinais muito positivos de que estamos a alterar o modelo de crescimento e de financiamento da economia portuguesa e essa é a condição de base para demonstramos aos nossos credores que a economia portuguesa tem sustentabilidade e que a dívida terá, a prazo, condições de sustentabilidade", explica o economista.
O que falta para que a reforma possa ser consistente, sublinha Eduardo Catroga, é "a retoma do investimento empresarial" e enquanto este não aparecer "no sector dos bens e serviços transaccionáveis", a retoma será sempre "frouxa".
"A recuperação do investimento produtivo é a variável chave para que possamos vir a ter uma resposta sustentada e saudável da economia", explica o economista, concluindo que para isso "é fundamental o esforço das empresas para a diversificação de mercados externos".
"Conseguiremos criar condições para a recuperação do investimento empresarial tendo como motor a procura externa líquida e tendo também, a pouco e pouco, alguma recuperação do consumo privado", conclui o economista.