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O investigador não desmerece o papel das IPSS mas salientou que o Estado deve de ser “um financiador e também um regulador”
As cantinas sociais, que foram anunciadas como “um modelo de inovação social”, podem fomentar a desigualdade e a exclusão social, alerta um estudo a ser divulgado hoje em Lisboa.
De responsabilidade de Vasco Almeida, do Instituto Superior Miguel Torga/Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, o estudo, através de uma “metodologia qualitativa” e baseada em entrevistas com funcionários das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), alerta para várias causas negativas das cantinas.
Existem atualmente mais de 800 cantinas, que no ano passado, entre janeiro e outubro, serviram mais de 14 milhões de refeições.
No entanto o investigador, como explicou à Agência Lusa, olha com desconfiança para a iniciativa, desde logo porque se trata de “um ato isolado, que não vai resolver a pobreza nem contribui para a capacitação das pessoas”.
É “uma medida temporária, com um destino incerto” e todas as pessoas com quem falei me dizem que se está a ir para onde não se devia, que é “dar o peixe em vez de ensinar a pescar”, disse.
Vasco Almeida vê méritos na medida e não se esquece que através dela se tira a fome a muitas pessoas, mas adianta que a mesma não é abrangente, porque existem listas de espera, e que é apenas uma refeição por dia e “nem sempre sete dias por semana”.
“Há zonas interiores onde não há qualquer IPSS, depois nem sempre as cantinas chegam a quem precisa, depois quem recebe outro tipo de ajuda, como do Banco Alimentar, não tem acesso, sendo que são pontuais as ajudas do Banco”, acrescentou o autor do estudo.
Vasco Almeida lembrou que o Governo paga a cada IPSS 2,5 euros por refeição para acrescentar que haverá instituições que não se norteiam por uma ação solidária mas que, ao contrário, poderão estar a ver nesta contribuição “uma forma de arranjar um suplemente financeiro”.
O investigador não desmerece o papel das IPSS mas salientou que o Estado deve de ser “um financiador e também um regulador”.
Mas diz perentoriamente que as cantinas sociais “não resolvem os problemas e trazem dependência”.
“As cantinas foram anunciadas como um modelo de inovação social. Mas se olharmos para o conceito mais comum pressupõe-se que na inovação social haja capacitação do individuo, o que não acontece”, disse também.
O estudo é apresentado hoje no decorrer de uma conferência sobre Estado Social no contexto de crise, que durante dois dias junta no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) dezenas de académicos de mais de uma dúzia de países.


