12.5.14

Portugal é o segundo país da UE onde mais gente acha que a situação está pior

Romana Borja-Santos, in Público on-line

Eurobarómetro mostra que, apesar das melhorias, em Portugal a maior parte das pessoas continua a estar insatisfeita com a vida e tem a percepção de que a crise está longe de ser ultrapassada. De tal forma, que confiam mais na União Europeia do que no Governo e na Assembleia da República.

Apesar de existir um maior optimismo sobre a evolução do país, Portugal ainda é o segundo estado-membro da União Europeia (UE) onde mais pessoas acham que a situação económica está pior, com 45% dos cidadãos a escolher esta opção, contra uma média de 25% na Europa a 28. Muitos dos portugueses inquiridos num Eurobarómetro especial, feito a propósito das eleições europeias, acreditam que o pior ainda está para vir, nomeadamente na área com que assumiram estar mais preocupados: o desemprego.

O estudo de opinião, que contou com quase 28 mil participantes, 1025 dos quais portugueses, conduzido em Março pelo organismo de estatísticas da UE, para assinalar as eleições de 25 de Maio, mostra que, em geral, os estados-membros estão mais confiantes na retoma económica, com as pessoas a dizerem-se mais optimistas em relação à economia e áreas como o desemprego.

Quanto à opinião sobre as instituições, tanto europeus como portugueses tendem a confiar mais na União Europeia do que nos Parlamentos e nos Governos nacionais. Cerca de 26% dos inquiridos a nível nacional e 32% em termos europeus dizem confiar na UE, contra 13% e 27% que confiam no Parlamento e 14% e 26% que confiam no Governo. Olhando para os resultados portugueses, há uma subida de três pontos percentuais na confiança na UE e uma quebra de um ponto na confiança no Governo e de dois pontos no que diz respeito à Assembleia da República.

Regra geral, Portugal acompanha a tendência europeia, com mais opiniões positivas sobre o futuro do país e da Europa do que no trabalho realizado no Outono. Porém, a melhoria não foi suficiente para que ultrapassasse outros estados. Ao todo, 45% dos portugueses responde que a situação económica do país está pior, uma queda de 12 pontos percentuais, mas que mesmo assim mantém o país como o segundo mais negativo, logo a seguir à Grécia. Houve, ainda, 16% de inquiridos a responder que a situação portuguesa está melhor (mais 5% do que no estudo anterior), porém o valor é o segundo mais baixo da UE, depois da República Checa e empatado com a Grécia e Eslovénia.

Só 3% dos portugueses diz que a situação actual do país é totalmente boa, contra 33% na EU. No campo específico do desemprego, 34% dos inquiridos em Portugal diz que o impacto da crise no mundo do trabalho já atingiu o pico máximo (mais nove pontos percentuais do que no Outono), quando na UE o valor é de 44% (mais quatro pontos). Pelo contrário, 59% dos portugueses diz que o pior ainda está para vir (menos oito pontos), contra 47% da média europeia (menos três pontos).

Um país de insatisfeitos
Mesmo em termos de vida quotidiana, só 2% dos portugueses está "muito satisfeito" com a vida e 36% tende a estar "satisfeito", quando a média europeia é de 21% e 24%, respectivamente. Portugal é, assim, o país com menos gente "muito satisfeita", seguido da Bulgária e Itália. Quanto a pessoas "satisfeitas", só a Bulgária teve menos gente a dar esta resposta. A Dinamarca é o país onde mais gente disse estar "muito satisfeita" (70%). Na área da qualidade de vida, nenhum português respondeu que era "muito boa" e só 17% disseram que era "boa". Houve ainda 60% dos inquiridos a dizer que tendia a ser "má" e 23% a dizer que era "mesmo má". Neste último ponto, só na Bulgária, Grécia, Croácia, Itália, Roménia e Eslovénia houve mais gente a escolher a resposta “má”.

Quando questionados sobre os maiores desafios que o país enfrenta no momento, 65% dos portugueses identifica o desemprego à cabeça, tal como 49% na média europeia. Porém, quando a pergunta é sobre a vida pessoal dos inquiridos, a opção mais escolhida é a inflação e a escalada de preços, com 52% dos portugueses e 38% dos europeus a dar ênfase a esta área, surgindo o desemprego em segundo lugar com 30% dos portugueses a referirem-no e 21% em termos médios europeus. Já sobre os desafios europeus, as respostas voltam a trocar o assunto a ocupar o topo da tabela, que neste caso é a situação económica para 49% dos portugueses e para 40% dos europeus.

No que diz respeito à UE e sua influência na vida do país, os portugueses são mais descrentes do que a média europeia com 40% a dizer que percebem o funcionamento da comunidade (contra 51% na UE) e com 41% a afirmar que vêem a globalização como uma oportunidade de crescimento (contra 52% na UE). Há 37% de portugueses a defender que o país estaria melhor se não pertencesse à UE, quando a média europeia se fica pelos 32%. Mesmo assim, 63% dos portugueses admite que a "facilidade de circulação" é uma das mais-valias da comunidade, seguida da "paz", que foi referida por 37% dos inquiridos, e do "euro", apontado por 24% das pessoas, em empate com o "programa Erasmus".