Vanda Marques, in Sábado
Já são 10 os casos que a Equipa de Análise Retrospetiva de Homicídio em Violência Doméstica, coordenada por Rui do Carmo, procurador jubilado, analisou. Criada em 2016 para ajudar a combater a violência doméstica, a EARHVD pretende perceber como poderiam ter sido evitados estes casos. As conclusões dos relatórios apontam falhas à polícia, instituições de solidariedade, Ministério Público e aos profissionais de saúde.Temos uma sociedade condescendente com a violência doméstica?
Não tenho dúvidas de que a sociedade é condescendente com a violência doméstica. Ainda não temos os valores de defesa dos direitos humanos suficientemente interiorizados.
Nos casos que analisam percebemos que há algo que está a falhar, médicos e psiquiatras que não detetam estes problemas. Porquê?
Temos de ter em conta que a saúde é um meio de entrada muito importante para estas vítimas. É um meio ao qual recorrem com queixas psicossomáticas, de mal-estar. Por isso, a DGS criou protocolos de intervenção que indicam que deve haver uma atitude proativa no sentido de procurar saber das pessoas se existe ou não alguma relação de violência nas relações de intimidade e familiares. Não pode haver uma atitude passiva dos médicos. Os profissionais de saúde têm de compreender que, muitas vezes, é aí que as vítimas têm a primeira expressão da sua situação. É diferente marcar uma consulta ou ir à polícia.