14.12.20

Unicef alerta para níveis crescentes de pobreza infantil em Portugal

Joana Rodrigues Stumpo, in JN

Portugal é, a par de Itália e da Grécia, um dos países onde que há uma maior relação entre a pobreza infantil e a escassez de investimento em prestações familiares, alerta a Unicef, num relatório sobre o impacto da pandemia de covid-19 na pobreza infantil em países desenvolvidos. E em que admite que nos próximos cinco anos estes números deverão aumentar.

No documento, divulgado esta sexta-feira pelo Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância, são reconhecidas as medidas já adotadas e previstas no Orçamento de Estado para 2021, como o abono de família extraordinário e a previsão da gratuitidade de creches. No entendo, é feito um pedido para que se reforce o Sistema de Proteção de crianças e menores, de maneira a "responder às necessidades presentes e futuras, assegurando uma resposta de direitos humanos preventiva, atempada e coordenada a todas as crianças", lê-se no comunicado emitido.

Segundo o Eurostat, gabinete de estatísticas da União Europeia, nos países desenvolvidos, durante a primeira vaga da pandemia, 90% dos apoios financeiros foram dirigidos às empresas, tendo sido atribuídos, entre fevereiro e o final de julho, o "valor histórico" de 10,8 mil milhões de dólares.

A Unicef alerta para o risco de exclusão das crianças mais marginalizadas, "o que significa que as crianças que estão numa situação pior serão as mais afetadas". Para além disso, o relatório regista, ainda, que apenas um terço dos países da OCDE e da UE implementaram políticas de apoio às crianças, em resposta à pandemia.

Apoios são insuficientes

Para a Unicef, estas medidas de curto prazo são "completamente inadequadas" para enfrentar a duração estimada da crise e os riscos de pobreza infantil a longo prazo e, por isso, lança algumas recomendações. É preciso aumentar as despesas de proteção social para proteger as crianças até porque "com o tempo, passará a haver uma procura maior por intervenções sociais mais intensivas".

A Diretora do Gabinete de Investigação da UNICEF, Gunilla Olsson, diz que é necessário "incentivar os governos a reforçar a proteção social das crianças".

Antes da pandemia, 19% das crianças portuguesas entre os 0 e 18 anos estavam no limiar da pobreza.