26.4.21

Faro e Odivelas são os concelhos onde o desemprego mais subiu

Cátia Mateus, in Expresso

Crise. Um ano de pandemia colocou o desemprego no valor mais alto dos últimos quatro anos. Há concelhos onde duplicou

Apesar dos milhares de postos de trabalho protegidos pelos apoios públicos criados com a pandemia, não foi possível impedir que a crise chegasse em força ao mercado de trabalho. Os indicadores divulgados esta semana pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) colocam o desemprego registado em março de 2021 no patamar mais elevado dos últimos quatro anos. No mês em que se cumpre um ano do primeiro caso de covid-19 confirmado em Portugal, já com dois confinamentos gerais cumpridos e muitas restrições à atividade económica, os serviços públicos de emprego contabilizavam 432.800 pessoas desempregadas e disponíveis para trabalhar. Mas os cálculos do Expresso mostram que há diferentes realidades na evolução do desemprego nos vários concelhos do país. Se em Faro e Odivelas a pandemia fez duplicar o desemprego, Arronches e Pampilhosa da Serra tinham em março deste ano menos desempregados do que no período pré-pandemia.

É preciso recuar até abril de 2017 para encontrar um valor de desemprego registado tão elevado como o contabilizado em março de 2021 pelo IEFP: 432.800 pessoas. Os dados, que traduzem um agravamento do desemprego registado pelo quarto mês consecutivo, permitem também fazer o balanço dos efeitos de um ano de pandemia no emprego nacional. A análise realizada pelo Expresso aos últimos indicadores do IEFP mostra que os impactos da crise pandémica no desemprego foram sentidos de forma generalizada nas várias regiões do país, com particular incidência na região do Algarve — pela sua exposição económica ao turismo, um dos sectores mais afetados pela pandemia — e na de Lisboa e Vale do Tejo.

IMPACTOS DIFERENCIADOS

Em março deste ano, 88,5% dos 278 concelhos do continente — o IEFP não disponibiliza dados desagregados para as Regiões Autónomas — registavam um nível de desemprego superior a fevereiro de 2020, último mês livre dos efeitos da crise pandémica. O caso mais grave é Faro, que registava em março 3413 desempregados inscritos, mais do dobro do que tinha em fevereiro de 2020 (ver infografia). Odivelas, Castro Marim e Loulé, que somam aumentos percentuais do desemprego registado de 99,9%, 97,1% e 94%, respetivamente, lideram a lista de concelhos onde o desemprego mais se agravou. No extremo oposto destacam-se Arronches, Pampilhosa da Serra e Monforte, que, apesar da crise pandémica, conseguiram diminuir o número de desempregados inscritos nos centros de emprego locais. O concelho alentejano viu recuar em 29% o número de desempregados, registando um recuo nesse número na ordem dos 20%.

Pelos cálculos do Expresso, nos 12 meses de pandemia que já enfrentamos — de março de 2020 a março de 2021 — inscreveram-se nos centros de emprego como desempregadas mais de 611.500 pessoas. Os vínculos de trabalho mais precários — como contratos a termo — respondem pela maior fatia dos novos inscritos. Foram quase 329 mil os que entraram no desemprego por não verem renovados contratos de trabalho a termo. São mais 75.273 que os registados no período homólogo da pré-pandemia, de março de 2019 a março de 2020, o que traduz um aumento de quase 30%.

Os despedimentos são a segunda maior causa de inscrição no desemprego e também aumentaram face ao período homólogo. Desde o início da crise pandémica, 99 mil pessoas formalizaram inscrição nos centros de emprego alegando como motivo o despedimento. São mais 33.119 do que as registadas entre março de 2019 e o mesmo mês de 2020, o que traduz um aumento de 50%. No sentido oposto, o número de trabalhadores que entraram no desemprego por se terem despedido registou um decréscimo de 22%. Foram 22.027 os que tomaram esta iniciativa desde o início da pandemia, menos 6341 do que nos 12 meses anteriores.