A forma de paralisar a ação política em qualquer domínio é simples. Basta impedir que se recolha, ou divulgue, a informação necessária para que qualquer opinião seja questionável, para que cada proposta possa ser acusada de exagerada ou de insuficiente, cada ideia combatida por qualquer disparate. Sem a âncora dos factos não é possível agir politicamente, definindo objetivos alcançáveis, nem agir estrategicamente ajustando os meios aos fins.
Por isso quando o propósito é deixar tudo como está não são necessários levantamentos, estudos, nem debates. A ignorância é a arma dos conservadores.
Veja-se o caso do aeroporto em Portugal. Como se não estudou em profundidade todas as alternativas, em todas as vertentes, a dúvida persiste, cada opinião é igual a qualquer outra, os interesses particulares imperam e são contraditórios e, consequentemente, a incapacidade de decisão racional impede a realização de obra imprescindível para o desenvolvimento do país.
Outro caso, ainda mais paradigmático é o do Racismo. Negros e Ciganos sentem-no na pele, na discriminação no acesso ao ensino, ao emprego, à saúde, à habitação e a tantos outros direitos democráticos. No entanto a sua experiência de vida é negada por setores poderosos do grupo étnico que se autodefine como branco com base nas mais disparatadas negações. "Portugal não é racista" repetem e explicam: "é tudo inventado" dizem os piores; "é a classe, não o racismo" dizem uns que se julgam marxistas; outros perentórios retorquem "é a cultura, não o racismo", e todos os disparates se equiparam porque não há dados que permitam dirimir o conflito.
Perante esta cacofonia teórica, o que deve o político sensato fazer? Primeiro acreditar nas vítimas. Se tantos se queixam por alguma coisa será. É, pois, necessário agir com urgência nas áreas em que as queixas são muitas.
Em simultâneo olhar para os dados que existem apesar de tudo - a desproporção de Negros e Ciganos nas prisões (para mais), no ensino superior (para menos), no acesso a empregos qualificados (para menos), na precariedade ou exclusão laboral (para mais), na falta de habitação (para mais) - e, em conjunto com as comunidades afetadas, projetar e implementar políticas estruturais para acabar com essa discriminação.
Em terceiro lugar, mas no mesmo momento inicial, recolher de forma sistemática os dados estatísticos, quantitativos, mas também dados qualitativos, quer permitam perceber como é que o fenómeno do racismo se materializa em Portugal.
Infelizmente os políticos sensatos nunca abundaram no nosso país e cada vez temos mais políticos que negam as realidades e levam o nosso país no sentido oposto ao do progresso - a estagnação das últimas três décadas aí está a comprová-lo. Metem deliberadamente a cabeça na areia como as avestruzes para melhor chafurdar na lama do racismo como os ... caucasianos do Norte (ver o que são).