6.10.22

Idosos na pobreza. "Alguém me diga como se consegue viver com 189 euros"

Por Maria Augusta Casaca, in TSF

Rosa e Teresa são dois rostos de uma velhice com escassos rendimentos. São os idosos pobres em Portugal.

Ganham muito menos de 554 euros líquidos por mês e, pela estatística, fazem parte dos inúmeros idosos pobres existentes em Portugal. Rosa tem 82 anos. Teresa, mais nova, já atingiu os 66 anos.

Rosa trabalhou toda a vida como calista nos melhores cabeleireiros de Lisboa e mais tarde em aldeamentos de luxo no Algarve.

Hoje tem uma pensão de miséria." Agora, com os aumentos que houve, ganho 390 euros", conta. O marido, antigo marítimo, recebe menos de 300 euros. Embora a renda tenha sido atualizada, Rosa explica que "a sua sorte sorte é ter uma casa da câmara [municipal]", onde paga menos de 60 euros." Se eu não tivesse esta ajuda não era fácil, foram elas que fizeram com que não me faltasse nada em casa". Rosa emociona-se. Elas, são as voluntárias da associação Refood onde vai buscar refeições. E é essa ajuda que lhe vale nos dias que correm. Com 82 anos, só deixou de trabalhar há três, quando o marido adoeceu com cancro e teve que começar a ser cuidadora. Até há pouco tempo fazia limpezas e passava a ferro. "Quando nós somos novas as clientes são todas muito queridas, quando atingimos uma determinada idade [o trabalho] começa a falhar", lamenta.

O caso de Teresa, embora diferente, não deixa de ser igualmente dramático. Recebe também ajuda alimentar da mesma instituição. Esta mulher, de 66 anos tem nacionalidade portuguesa mas viveu quase toda a vida no Brasil. Regressou há 4 anos e, para sobreviver, fazia limpezas. Trabalhava muitas horas mas conseguia pagar todas as suas contas.

No entanto, há cerca de dois anos, uma queda deixou-a incapacitada para o trabalho. "Dava para me sustentar, pagava a minha renda, depois tive esta fatalidade", conta. Vive num anexo, e por caridade da proprietária, paga o que pode, quando pode. Recebe o Rendimento Social de Inserção." São 189 euros, se alguém consegue viver com isso que me ensine, porque não dá". Teresa entrou agora com o pedido de reforma mas, como tem poucos descontos em Portugal, não espera grande aumento nos seus rendimentos.

Estas duas idosas, que em tempos já viveram em desafogo monetário, hoje necessitam de ser ajudadas. Mesmo assim, nos seus 82 anos, Rosa não baixa os braços. "Sou uma padeira de Aljubarrota", afirma a sorrir. "Tem que ser, tem que ser", diz com a voz embargada.