Cátia Mateus, in Expresso
Manter a taxa abaixo de 10% é um cenário que os economistas apontam como pouco provávelO desemprego em mínimos históricos, que tem caracterizado o mercado de trabalho nacional, pode não se prolongar por muito mais tempo. A incerteza face ao cenário económico, associada à pressão para aumentar salários, pode mudar as contas do desemprego nos próximos meses, admitem os economistas ouvidos pelo Expresso.
Nas previsões do Governo, em 2022 a taxa de desemprego deverá ficar nos 6%, recuando para 5,6% em 2023. Mas para os economistas ouvidos pelo Expresso, este cenário é otimista. E não é só pelo contexto de incerteza associado à guerra na Europa, ou pela possibilidade de uma recessão.
A pressão sobre os salários — mínimo e também médio, que o Governo quer ver aumentar em 5,1%, cumprindo as metas do acordo de rendimentos — terá impacto nas decisões de contratação e gestão das empresas, admitem. Mas é a redução da procura que poderá forçar um aumento do desemprego nacional mais acelerado.
O debate em torno da relação entre a subida do salário mínimo e o aumento do desemprego é antigo. Os principais estudos realizados, entre os quais um de Pedro Martins, economista, professor da NovaSBE e ex-secretário de Estado do Emprego, apontam para um “efeito negativo, mas não muito pronunciado, do aumento do salário mínimo sobre o emprego, bem como impacto negativo nas exportações e importações das empresas”. Algo que parece não se verificar no desemprego, segundo os dados do INE analisados pelo Expresso (ver infografia).
Porém, o economista sinaliza que o aumento do desemprego que antecipa ainda para este ano “deverá resultar mais de uma resistência a novos recrutamentos pelas empresas”, do que de despedimentos. “Admito que este avolumar de incerteza que decorre da guerra e da possibilidade de uma recessão na Europa possa levar as empresas a adiar as suas intenções de contratação, por receio do aumento de custos com pessoal”, vinca.
Uma visão que João Cerejeira, economista e professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, corrobora em parte. Cerejeira não descarta que “até dezembro possamos assistir a despedimentos, não renovação de contratos ou contenção nas contratações”. Mas explica que “isso será mais motivado pela diminuição na procura que impactará drasticamente as nossas PME e não tanto pelo aumento salarial, sobretudo o mínimo”. Manter a taxa nacional de desemprego abaixo dos 10%, “exigiria que o PIB crescesse de facto 1,3%, como consta do Orçamento”. Um cenário que Cerejeira antecipa como “pouco provável”, tendo em conta “o que já estamos a ver em países como a Alemanha, França, Reino Unido e até Espanha, que são mercados relevantes para nós”.