Por Clara Viana,in Público on-line
Inquérito a 14 mil jovens que concluiram o secundário
Inquérito feito a mais de 14 mil jovens que concluíram o ensino secundário confirma que a maioria é oriunda de agregados familiares em que os mais velhos não foram além do 3.º ciclo.
Um inquérito realizado em 2011 a 14.004 jovens mostra que a percentagem dos que começaram a trabalhar devido a dificuldades económicas é superior entre aqueles que são oriundos de famílias com níveis de escolaridade mais elevados. A existência de dificuldades económicas foi a razão apontada por 34,1% dos inquiridos oriundos de famílias em que o nível de escolaridade dominante é o ensino superior. Entre os jovens com famílias com o 1.º ciclo, a mesma razão foi apontada por 29,9%.
Estes resultados invertem os obtidos em 2010 num outro inquérito realizado a 9593 jovens, em que as dificuldades económicas como razão para terem começado a trabalhar foi apontada sobretudo pelos jovens oriundos das famílias com menor escolaridade: 33,5%, contra 26,1% dos que provinham de agregados com o ensino superior.
O facto de se verificar agora que "quanto mais elevados os níveis de escolaridade das famílias, mais os jovens consideram que começaram a trabalhar por dificuldades económicas" é uma das conclusões destacadas pelos autores do inquérito, que a classificam de "surpreendente". O inquérito foi realizado pelo Observatório de Trajectos dos Estudantes do Ensino Secundário (OTES), um projecto do Centro de Investigação de Estudos em Sociologia do ISCTE, Lisboa, financiado pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC).
Os dados sobre a escolaridade dominante nos agregados familiares dos inquiridos voltam a confirmar a má posição de Portugal no que respeita à escolarização da sua população: em 50,6% das famílias dos jovens que responderam ao inquérito, que na esmagadora maioria já tinham concluído o secundário, o 3.º ciclo é o patamar máximo até onde foram os seus pais. Destes, 11,5% não foram além do 1.º ciclo ou mesmo nem isso.
Com base em inquéritos anuais realizados junto de escolas e alunos, o OTES pretende dar a conhecer o perfil dos estudantes à entrada e saída do ensino secundário, neste último caso tanto no ano em que deveriam concluir este nível de ensino como 14 meses depois desta data. Os resultados agora divulgados dizem respeito a este "pós-secundário". O inquérito foi enviado por correio electrónico aos jovens que, em 2010, foram inquiridos quando se encontravam a concluir o ensino secundário. Na altura responderam 45.472 alunos. Destes voltaram a responder, um ano depois, 14.004 jovens, ou seja, 36,8%.
Comparando alguns dos resultados, no final do secundário 89,4% indicaram que só continuavam a estudar. Catorze meses após a data esperada de conclusão deste nível de ensino, estavam nesta situação (só a estudar) 73% dos inquiridos. Mais de metade dos que em 2011 já estavam a trabalhar ou tinham trabalhado indicaram que o fizeram para conseguir independência financeira. Em 2010, no ano em deviam estar a terminar o secundário, esta razão foi apontada por 44,6%.
Por outro lado, entre a minoria que se encontra a trabalhar existe uma diferença radical no que respeita à modalidade de trabalho em que se encontram. Quando estavam a terminar o secundário, apenas 6,4% indicaram estar a trabalhar a tempo inteiro, uma percentagem que sobe para 56,4% no inquérito realizado 14 meses depois. Entre os jovens a trabalhar, o principal grupo indicou que o conseguiu através de candidatura espontânea. A seguir vêm os que conseguiram um lugar através da ajuda de familiares ou amigos.
Apenas 20% dos inquiridos frequentaram cursos profissionais. Dados do MEC dão conta de que, em 2010, no conjunto dos três anos do secundário, eram cerca de 40% os alunos que frequentavam esta modalidade de ensino.
Cursos e professores satisfazem
Os jovens que frequentaram escolas de ensino artístico especializado são os que "estão mais satisfeitos com o curso que tiraram no ensino secundário": 51,2% dos inquiridos nesta situação afirmaram-se muito satisfeitos. A percentagem dos que manifestam o mesmo grau de satisfação entre os que frequentaram os cursos científico-humanísticos é de 25,2%. No geral, os jovens inquiridos mostram-se satisfeitos com o curso que tiraram no ensino secundário (só 4,4% demonstram estar insatisfeitos ou muito insatisfeitos) e com os professores que tiveram - apenas 3,7% dizem o contrário. Aquando da realização do inquérito, os jovens deviam ter terminado o secundário há 14 meses. Entre os inquiridos, 3,3% ainda frequentavam o secundário. As duas principais razões para esta situação são o chumbo (38%) e a tentativa de subir notas nos exames nacionais (23,5%) para garantir lugar no ensino superior.