4.3.12

Quando o hospital se transforma na casa dos idosos

Por Maria João Lopes, in Público on-line

São, sobretudo, idosos que viviam sozinhos e que, depois da alta hospitalar, não têm um sítio para morar à sua espera, com alguém que cuide deles. Há queixas da demora da resposta da Segurança Social.

Mais do que idosos abandonados pelas famílias, os hospitais registam sobretudo casos de pessoas de idade que viviam sozinhas, sem família, e que não têm condições para regressar a casa, depois de lhes ter sido dada alta. São situações destas que fazem com que os internamentos se arrastem por tempo indefinido, até que surja uma solução como a admissão num lar.

No que toca a protelamentos da alta no Centro Hospitalar Lisboa Norte, em 2011, o principal motivo foi mesmo a indisponibilidade da família para a prestação de cuidados (181 casos). Segue-se insegurança da família para assegurar a continuação da prestação de cuidados, com 125 situações. Entre outros, registaram-se 113 casos de recursos financeiros insuficientes.Rosa (nome fictício), 83 anos, é um destes casos. Deu entrada no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com insuficiência renal crónica. Diagnosticaram-lhe ainda uma neoplasia no cólon. Já teve alta há cerca de um ano, mas permaneceu no hospital. Solteira e sem filhos, a família que tem são dois sobrinhos, que não a quiseram levar para casa nem tratar de lhe arranjar um lar.

Nos Hospitais da Universidade de Coimbra - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (HUC-CHUC), o que o serviço social mais recebe são casos destes, de idosos que viviam sós e sem familiares de 1.º grau: "Nesses casos, o ingresso num lar, comparticipado pela Segurança Social, é muito difícil e alguns ficam internados demasiado tempo", diz a coordenadora do serviço, Isabel Ventura. Também no Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), entre os 38 adultos - a maioria idosos - que ainda não saíram do hospital por "motivos sociais", grande parte corresponde a casos de utentes sós, dependentes, e sem família, que necessitam de resposta da Segurança Social, ou, então, idosos que não têm familiares com disponibilidade para cuidar deles. A coordenadora do serviço social, Adélia Gomes, nota que há famílias que não conseguem suportar uma mensalidade num lar particular, que, na área de Lisboa, "têm mensalidades de 1200 euros ou mais".

No Centro Hospitalar de Lisboa Central, (CHLC), existiam no início do ano 14 idosos com alta protelada por motivos sociais. De acordo com o conselho de administração, este número tem vindo a diminuir - embora se tenha verificado um "aumento pouco significativo" em 2011 - tal como tem vindo a diminuir a média de dias em que permanecem internados.