por Vítor Rainho, in Sol
António Barreto em entrevista ao SOL, na semana passada, fez uma análise bastante clara da crise. Se o país decidir fazer tábua rasa do acordo com a troika, quem ficará em maus lençóis são as classes mais desfavorecidas.
Aqueles que têm grandes rendimentos conseguirão dar a volta ao texto e, com mais ou menos milhão, irão continuar a sua vida tranquilamente. E esta é uma das grandes questões que está em cima da mesa. Alegando querer defender os direitos dos trabalhadores, são muitos os que acham que está na altura de dizer chega e deixar de pagar as dívidas. Mas se isso acontecer, onde é que essas cabeças pensantes vão buscar dinheiro para pagar os salários? Voltamos ao escudo? Conseguiremos comprar alguma coisa com essa moeda? Pode ser que sim, mas em condições ainda muito mais desfavoráveis, provocando ainda mais pobreza. Por muito triste que seja, a verdade é que não há alternativa – ou pelo menos ninguém a foi capaz de revelar.
Dentro deste cenário, o que me parece razoável é que as pessoas exijam que os mais ricos não fiquem de fora dos sacrifícios, não pretendendo, no entanto, que também fiquem pobres. O país precisa de quem crie trabalho e de uma sociedade civil capaz de resolver os seus problemas, fazendo com que no futuro o Estado tenha um peso cada vez menor na economia. Quanto mais estamos dependentes do Estado, mais dependemos de lóbis e de politiquices rasteiras. Quanto menos precisarmos do Estado, melhor estaremos.
Na actual situação, o Governo não pode ter belas ideias se não for capaz de demonstrar que não são apenas as classes média e baixa que vão pagar com os seus salários os impostos necessários para reduzir as dívidas. Também a Justiça terá um papel decisivo no futuro do país. Se continuarem a existir casos como o BPN, Freeport, submarinos, Face Oculta, entre tantos outros, sem que se condenem os responsáveis pelas supostas fraudes, a situação tenderá a agravar-se consideravelmente. Portugal precisa de uma Justiça que condene os infractores e ilibe os inocentes. Precisa de uma máquina fiscal que não permita que apenas os assalariados paguem todos os seus impostos. Mas também precisa de quem empregue bem esse dinheiro, aumentando a justiça social.
P.S. Não consigo entender como é possível querer derrubar o Governo pela força da rua. Mas não foram eleitos para quatro anos? Estão assim tão longe do seu programa eleitoral? Mas, por outro lado, seria engraçado ver a oposição no Governo...