por Sandra Araújo, in Parlamento Global
Que democracia é esta em que os cidadãos sofrem, passam fome, vivem na miséria, são discriminados e desprezados, não têm acesso aos direitos fundamentais e se encontram destituídos de qualquer poder e possibilidade de participação?
Falo de um país em que eu não imaginei viver, falo de um país em que há crianças que chegam à escola com fome (12 200 casos sinalizados a nível nacional),um país em que por falta de condições económicas os pais pensam em entregar os filhos a instituições de acolhimento, um país onde os mais velhos, muitas vezes com baixas reformas, estão a sustentar os filhos sem trabalho, um país em sofrimento em que há cidadãos não conseguem comprar os medicamentos ou sequer o transporte para se deslocaram a um serviço de saúde, enfim, poderia aqui nomear um número crescente de situações que desafiam as mais básicas e éticas noções de dignidade humana.
Escrevo com indignação sobre a insustentável miopia que afeta a maioria dos responsáveis políticos europeus e nacionais, que ainda não conseguiram ver que o modelo em que tem assentado a resposta à crise está esgotado e que é necessário uma rutura com as políticas seguidas. Pelo contrário, resistem à mudança e continuam em insistir em “receitas” que já provaram só conseguir produzir desemprego e pobreza.
Outras formas de organização são essenciais e creio que nos está a fazer falta imaginação institucional e propostas políticas audazes.
Por outro lado, precisamos de uma cultura de exigência perante os decisores políticos. O processo de democratização implica não só uma estrutura formal democrática, mas necessita da construção de uma nova postura, tanto por parte dos cidadãos, como das instituições, uma aprendizagem sobre os direitos e responsabilidades de cada um e da coletividade diante da construção da democracia, perpassando para isso, o desenvolvimento de uma estrutura institucional democrática, ou seja, uma cultura de cidadania.