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O diretor da revista CAIS, orador num seminário que decorre hoje na Assembleia da República, alertou que, “em Portugal, a indiferença à pobreza é generalizada” e defendeu a sua "abolição" e “ilegalização”.
“Cansado de diagnósticos e números” e da “multiplicação de seminários e conferências”, Henrique Pinto, com larga experiência no terreno, vincou que é tempo, agora, de “partir a loiça e dizer basta”, até porque os dados estatísticos sobre a pobreza “ficam sempre aquém da realidade”.
Orador no seminário “Pobreza e Direitos Humanos”, organizado pela Plataforma Portuguesa de ONGD (organizações não governamentais para o desenvolvimento), o diretor da revista do Centro de Apoio e Inclusão de Sem-Abrigo (CAIS, associação de solidariedade social sem fins lucrativos), defendeu uma “solene declaração da ilegalidade da pobreza”, lembrando que “a economia não existe, existem pessoas que, quando se juntam, geram economia”.
Sublinhando que “a pobreza não conduz à violação de direitos humanos, mas sim viola-os”, insistiu na proposta: “abolir a pobreza e ilegalizá-la”.
Henrique Pinto frisou que “é no Estado Social que se deve trabalhar, antes de mais”, defendendo a recuperação do “imperativo da cooperação que conduz à fraternidade e não ao negócio da pobreza”, por contraponto à atual “esmola burguesa”, de “sobras” e “branqueadora de todo o tipo de crimes”.
Cantar a "Grândola, Vila Morena" não chega, "chegou a altura" de os cidadãos dizerem "o que querem" e fazerem "alguma coisa", vincou, adiantado que gostava de viver numa “Europa não fundada na solidariedade das esmolas, mas na empatia e na fraternidade”, numa “Europa que perdoa e que não desiste de ninguém”.
Orador no mesmo painel, Manuel Lapão, diretor para a Cooperação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), lamentou a “institucionalização do negócio da pobreza”, criticando as “organizações autofágicas”, que consomem grande parte dos fundos e que acabam por destinar pouco dinheiro a ações de combate à pobreza.
Assumindo que, fazendo parte do sistema, ainda não conseguiu, ele próprio, alterar este 'statu quo', Manuel Lapão lamentou que se venha falando “das mesmas coisas” há décadas, com poucos resultados. “A pobreza é uma limitação da liberdade”, frisou.
A pobreza limita a liberdade e, portanto, viola os direitos humanos, concordou Victor Nogueira, presidente da Amnistia Internacional, outro dos oradores.
Reconhecendo que, “para muita gente, a pobreza não é uma violação de um direito humano”, Victor Nogueira frisou que “a pobreza e os direitos humanos estão claramente ligados” e que, “com os direitos humanos realizados, as hipóteses de se viver em pobreza são muito menores”.