Maria Cláudia Monteiro, in Jornal de Notícias
João Correia tem 53 anos e está desempregado. Os dois filhos lançaram-se numa luta diária por um trabalho que afaste o pai da emigração. "Arranjar emprego para o meu pai é uma tarefa dos três", explicou a filha ao JN.
"Não há uma única empresa alemã em Portugal que não tenha recebido já o currículo do meu pai", garante Carina Vicente Correia, que guarda quatro dossiers com todas as cartas e currículos que já enviou. "E ainda assim foram raras as entrevistas a que foi", lamenta.
Não foi esta a vida que João Correia pensou ter um dia. Depois de 20 anos emigrado na Alemanha, achou que regressaria para acabar de criar os filhos e dar colo aos netos, na casa da família, em Vialonga, Vila Franca de Xira, que construiu nos anos em que esteve no estrangeiro.
Em Portugal, trabalhou durante os últimos dez anos como técnico de montagem de cozinhas numa empresa alemã. A crise atirou-o para o desemprego, aos 52 anos.
Nos primeiros meses, João ainda recebia de volta respostas às candidaturas espontâneas. "Mas agora já não respondem, passo meses sem ter um único feedback", contou. "Já não sei mais para onde enviar o meu currículo", diz.
A falta de respostas lançou pai e filhos na missão de arranjar emprego. "Face ao insucesso do meu pai, achamos que o trabalho em tripla seria mais fácil", explica a filha mais velha de João Correia, que procura pelas redes sociais um trabalho. "O objectivo de todos é que o meu pai não emigre... É uma tarefa a três".
A rotina de Carina, de 33 anos, foi reenquadrada em função da nova missão. Ao final do dia, depois de cumprido o estágio de Direito num escritório de advogados de Lisboa, Carina lança na rede pedidos de emprego para o pai, via Facebook, por mail, para amigos, conhecidos e desconhecidos, para todos os que possam ajudar.
João Correia não poderia ter melhor relações públicas: "É uma mais-valia para qualquer empresa e quer muito trabalhar".
Voltar ao trilho da emigração é sempre uma opção. "Se emigrasse, teria trabalho amanhã mesmo", conta João, amargurado só com a possibilidade. "Depois de 20 anos na Alemanha, esperava ajudar os filhos e os netos", diz. "Estou preocupadíssimo com o que irá acontecer quando deixar de receber o subsídio de desemprego".
Carina aproveita a entrevista ao JN, que também já recebeu um currículo de João Correia, e pede a divulgação do número de telemóvel do pai, "um homem motivado e com capacidade para desempenhar trabalhos de camionagem e qualquer logística". O contacto é o 934339131.