12.11.13

Portugal errou ao querer ganhar o concurso de beleza da austeridade

in iOnline

Para o economista, se os países com contas públicas mais fortes fomentassem a expansão, isso contrariaria a contração orçamental dos países da periferia, equilibrando a economia europeia
O economista Paul de Grauwe entende que Portugal cometeu o “erro” de ser o melhor aluno da ‘troika’, quando a economia estaria melhor se assim não fosse, e defende um lóbi do Sul da Europa para mudar políticas europeias.

“O governo português fez o grande erro de tentar ser o melhor da turma no concurso de beleza da austeridade. Não havia razão para Portugal fazer isso, podia não ser o melhor da turma, podia ser mesmo o pior e isso seria melhor para economia”, considerou em entrevista à Lusa o economista belga, para quem Portugal tinha de levar a cabo medidas para reduzir a despesa, mas ao longo de mais anos, de modo a suavizar o impacto económico.

Até economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), afirmou, já perceberam que não é possível “fazer a austeridade toda ao mesmo tempo”, enquanto na Europa os líderes continuam imutáveis.

“Portugal e outros países do Sul da Europa deviam unir-se e dizer que a maneira como os tratam não é aceitável. Quando Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha levam a cabo medidas de austeridade, os outros países do Norte da Europa deviam fazer o inverso e estimular a economia. Vocês têm influência na Comissão Europeia, mas não a usam”, disse Paul de Grauwe.

Para o economista, se os países com contas públicas mais fortes fomentassem a expansão, isso contrariaria a contração orçamental dos países da periferia, equilibrando a economia europeia.

O excedente comercial (diferença entre exportações e importações) da Alemanha, que atingiu um valor histórico em setembro de 20,4 mil milhões de euros, também é um problema para Paul de Grauwe, já que “se uns têm excedentes, outros têm défices”.

No início do mês, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos já criticou a Alemanha por usar a crise para fomentar excessivamente as exportações, o que obriga os países da periferia a um ajustamento excessivo. Também o FMI veio entretanto dizer que a Alemanha podia contribuir para a estabilização da economia da Zona Euro se aumentasse o consumo interno.

Para o economista, toda a Europa devia estar comprometida em fazer os países como Portugal sairem da recessão económica, já que o endividamento não é só culpa destes, até porque para haver quem deve tem de haver quem empresta.

“A Zona Euro tornou-se um sistema em que a nações creditícias mandam. Mas a responsabilidade da crise não é só dos devedores, mas também dos credores. Por isso, a Comissão Europeia devia intervir no interesse dos credores e também dos devedores”, considerou.

Sobre se deve ser colocado um limite ao défice e endividamento da Constituição portuguesa, Paul de Grauwe rejeitou de imediato, considerando que “não faz qualquer sentido”, já que haverá sempre períodos em que os países têm de aumentar o seu endividamento para acomodar as crises cíclicas e proteger os cidadãos.

“O capitalismo é um sistema fantástico, mas muito instável, que produz altos e baixos, períodos de otimismo e pessimismo, e nos baixos o Governo tem de juntar as peças e os défices necessariamente aumentam. Precisamos de Governos que protejam os cidadãos, que os ajudem [quando estão mal]. Se não o fizerem, a legitimidade dos Governos fica em causa”, explicou.

O economista Paul de Grauwe está em Lisboa para participar na conferência que assinala os 25 anos do INDEG, a escola de negócios do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.