Costa Guimarães, in Correio do Minho
Um relatório da Cruz Vermelha destaca que a “pobreza está espalhada pela Europa”, que enfrenta “a pior crise humanitária das últimas seis décadas”.
E diz também que a austeridade está a atirar os europeus para uma espiral de pobreza e desigualdade, não se percebendo o silêncio que se abateu sobre este documento (http://www.ifrc.org/).
Milhões de europeus estão desempregados e muitos daqueles que ainda têm trabalho enfrentam dificuldades para sustentar a sua família devido aos salários insuficientes e ao aumento desmesurado dos preços, sublinha a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha, confirmando que “não só há mais pessoas a cair na pobreza, como os pobres estão a ficar mais pobres”. Ao mesmo tempo, a desigualdade entre ricos e pobres “está a crescer”.
Desde 2009, há um acréscimo de milhões de europeus que enfrentam filas para obter comida, não conseguem comprar medicamentos ou aceder a cuidados médicos.
As vidas das pessoas foram viradas do avesso e a degradação humana aumenta, explicou o secretário-geral da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha.
Para a Cruz Vermelha a maior preocupação centra-se no desemprego jovem “catastrófico” em cerca de 25% dos 52 países, com valores a atingirem um terço do total da população chegando a 60% de todos os jovens de um país. De 2008 a 2012, o número de desempregados entre 50 e 64 anos nos 28 países da União Europeia cresceu de 2,8 para quase cinco milhões de pessoas. Dos mais de 26 milhões de desempregados na UE, onze milhões são de longa duração, o dobro de há cinco anos atrás.
Existem quase vinte milhões de pessoas a receber apoio alimentar, 43 milhões que não têm o suficiente para comer diariamente e 120 milhões em risco de pobreza, em países acompanhados pelo Eurostat. Os serviços da Cruz Vermelha viram bater às suas portas mais 75% de pessoas que recebem comida em 22 dos países analisados. Só durante o ano passado, 3,5 milhões de europeus receberam estas doações.
Agora, milhões de europeus vivem em insegurança, sem certezas sobre o que o futuro e estarrecidos. Este é um dos piores estados de espírito que tolhe o ser humano. Vemos o desespero silencioso a alastrar entre os europeus, que resulta em depressões, resignação e perda de esperança.
Há cinco anos era inimaginável (existirem) tantos milhões de europeus em fila para conseguirem comida, muitos vivem hoje em caravanas, tendas, estações de comboios ou asilos para sem-abrigo. Diante de tamanho desespero silencioso da insegurança, da fome e sem abrigo, como se pode explicar tanta insensibilidade dos governantes europeus? A dignidade humana de milhões de europeus lançada no caixote do lixo mostra o lodaçal em que a União Europeia se enterrou.