12.11.13

Os últimos lugares da tabela pertencem aos alunos carenciados

Por Kátia Catulo, in iOnline</i>

O efeito da classe social ainda tem um peso muito forte no desempenho escolar , avisa especialista
De cada vez que os rankings das escolas melhores classificadas nos exames nacionais são divulgados sabe-se à partida que é o ensino público que perde contra o privado. Foi assim este ano e foi também assim em anos anteriores. O fenómeno quase que já não surpreende, mas entende-se melhor quando se procura conhecer quem são os alunos a frequentar a rede pública. Uma em cada cinco escolas (23,73%) tem mais de metade da população escolar carenciada e portanto apoiada por acção social escolar.

Do total dos 1045 estabelecimentos de ensino público com informação disponibilizada pela tutela há ainda 83 escolas com mais de 60% dos alunos a beneficiar de acção social. Em 22 escolas, os alunos carenciados ultrapassam os 70% da população escolar. E só em 33 casos (3,44%) é que as crianças e adolescentes carenciados significam apenas 10% da população a estudar na escola.

O i cruzou os dados socioeconómicos de 2011-2012 fornecidos pelo Ministério da Educação com os rankings deste ano das escolas públicas e, na esmagadora maioria dos casos, é possível concluir que, quanto maior é a população carenciada e mais baixa é a escolaridade dos pais, maior é também a probabilidade de a escola ou o agrupamento ficar nos últimos lugares da tabela.

CAUSA E EFEITO? É o caso, por exemplo da Escola Básica Integrada Pintor Almada Negreiros com 70,9% dos 734 alunos a beneficiar de acção social escolar. Nesta escola de Lisboa, a média das provas finais ficou-se pelos 1,94 pontos (numa escala de 1 a 5). A maioria dos pais destes alunos não estudou mais de seis anos e o estabelecimento de ensino ocupa a posição 1044 entre as 1060 escolas públicas do ranking do 2.º e 3.º ciclos. No lado oposto está a Secundária do Restelo com apenas 7% dos 1180 alunos carenciados e com a maioria dos encarregados de educação que estudaram mais de 14 anos. A escola de Lisboa ocupa o 34.º lugar entre os estabelecimentos do 2.º e 3.º ciclos.

Em Portugal, o efeito da classe social ainda tem um peso muito forte no desempenho escolar dos alunos, avisa Benedita Portugal, especialista em sociologia da educação. "O que a investigação científica na área de educação mostra é que, apesar de as famílias com baixo rendimento valorizarem a educação dos filhos, acabam por não ter recursos nem condições para os apoiar em casa. Ao contrário das famílias com maiores recursos e mais habilitações que escolhem as melhores escolas, que proporcionam explicações ou actividades extracurriculares aos filhos", defende a professora do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.

Para a socióloga, contudo, resumir o desempenho de uma escola aos resultados dos exames nacionais é insuficiente para avaliar a sua qualidade: "O insucesso escolar é um fenómeno demasiado complexo para ser reduzido a duas ou três variáveis e é por isso que não concordo com os rankings que ocultam a maioria do trabalho feito por alunos, professores e direcção e que não pode ser quantificado."

Mais do que olhar para a classificação da escola, Benedita Portugal defende que os pais devem centrar a sua atenção em aspectos "não qualitativos" do percurso escolar dos filhos: "Perceber se estão bem integrados na escola, se têm amigos, se a escola está bem organizada, se os horários são adequados são os aspectos que podem fazer muita diferença no desempenho escolar dos alunos."

Consulte aqui o Ranking 2013 das escolas nacionais.