21.11.13

Países mais pobres devem criar emprego e não só fazer crescer a economia

in Jornal de Notícias

Os Países Menos Avançados devem apostar em políticas que promovam não só o crescimento económico, mas principalmente a criação de empregos, sob pena de o fenómeno da 'primavera árabe' atingir mais de metade do continente africano.

De acordo com o relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, no original em inglês) sobre os Países Menos Avançados 2013 (PMA), apresentado em Lisboa pelo economista Rolf Traeger, "as consequências de a economia destes 49 países ter crescido mais do dobro do que o crescimento da criação de emprego nos últimos dez anos passam pelo risco de haver um fenómeno tipo 'Primavera Árabe', em que jovens educados se revoltam contra um futuro sem perspetivas, pela pobreza crescente, pela instabilidade social e pela emigração internacional em massa".

Na apresentação do relatório que analisa as 49 economias mais atrasadas à escala mundial, o economista das Nações Unidas sublinhou que o fenómeno da emigração em massa para tentar encontrar melhores perspetivas de vida já existe, e lembrou o caso do naufrágio perto de Lampedusa, em outubro.

"A maioria dos emigrantes que estava nesse barco não era de países do norte de África, mas sim da Somália e a Eritreia, pelo que o problema da instabilidade social já começou a manifestar-se e as consequências serão piores se os países não mudarem de políticas", disse.

De acordo com um dos autores do relatório, "a festa acabou com a crise financeira global, em 2008 e 2009". Até então, o crescimento médio destas 49 economias tinha sido de 7% entre 2000 e 2010, mas o emprego aumentou apenas 3%", mas mesmo assim o facto de ter emprego não significa automaticamente um passaporte para a melhoria das condições de vida.

"Mais de 75% dos empregados nos PMA ganham até 2 dólares por dia, por isso, embora as políticas de combate à pobreza tenham resultado, a redução da pobreza é ainda muito lenta porque a economia não dá empregos suficientes nem em quantidade nem em qualidade", acrescenta o responsável, que sublinha que o relatório apresentado pelas Nações Unidas defende, em traços gerais, o desenvolvimento de capacidades produtivas e mais empregos, a diversificação dos setores da economia e a introdução de tecnologias nas atividades económicas.

Entre as recomendações que constam no relatório estão, do ponto vista macroeconómico, a expansão da política fiscal, que tem um papel central no financiamento do investimento público e dos serviços sociais, a melhoria do acesso ao crédito, especialmente para os produtores rurais e para as micro e pequenas empresas, e alterações na política monetária.

Do lado das políticas empresariais, o relatório defende a aposta nas vantagens competitivas das políticas industriais, uma melhoria no financiamento e formalização da economia, e ainda defende não só mais ajuda financeira, mas principalmente a transferência de conhecimentos que permita adquirir o 'know-how' necessário à melhoria da produtividade.

Sobre a produtividade do trabalho nestes 49 PMA, 34 dos quais estão em África, Rolf Traeger disse que o valor ronda os 22%, quando comparado com os países em desenvolvimento, descendo para 10% quando comparado com a média da União Europeia e para 7% quando comparado com os Estados Unidos da América.