in o Observador
Um "aumento da pobreza da população" é uma possibilidade, alerta o Conselho Nacional de Saúde, baseando-se nos resultados de um estudo sobre os pedidos de ajuda devido à pandemia.
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) alertou esta quinta-feira para a possibilidade de um “aumento da pobreza da população” com base nos resultados de um estudo sobre os pedidos de ajuda às juntas de freguesia devido à pandemia de Covid-19.
“O CNS alerta para o facto de estes resultados poderem refletir um aumento da pobreza na população, associado às alterações bruscas no mercado de trabalho e no rendimento, seja por situação de layoff ou desemprego”, refere um comunicado daquele órgão, na sequência de um estudo com base num inquérito online remetido às 3.092 freguesias portuguesas e que obteve 860 respostas válidas (27,8%).
O CNS é um órgão de consulta do Governo na definição de políticas de saúde e tem por missão proporcionar a participação das várias entidades científicas, sociais, culturais e económicas na procura de consensos alargados.
De acordo com a análise do CNS, a dificuldade na aquisição de alimentos e medicamentos por incapacidade de sair de casa foi a principal razão que levou as pessoas com dependência funcional – pessoas idosas, pessoas portadoras de deficiência ou doença mental – e os seus familiares a pedirem apoio às juntas de freguesia, no âmbito da pandemia.
No caso dos agregados familiares com carências económicas, houve pedidos de ajuda para o “pagamento das rendas de casa, alimentos e medicamentos e também para a falta de acesso a computadores, telemóveis e telefones”, bem como relativos à falta de acesso à internet, que se tornou indispensável para que muitas crianças pudessem beneficiar do ensino à distância.
O estudo permitiu também detetar diferenças nos diversos territórios, no que respeita às dificuldades sentidas pelas pessoas com dependência funcional ou familiares, com Viana do Castelo, Portalegre e Castelo Branco a reportarem mais pedidos de ajuda por este grupo populacional, contrariamente a Bragança, Guarda e Setúbal, que reportaram menor frequência de pedidos de ajuda deste grupo.
Relativamente aos agregados com dificuldades económicas, Portalegre, Faro e a Região Autónoma dos Açores registaram mais pedidos de ajuda, enquanto Beja, Setúbal e Évora reportaram menor frequência de pedidos de ajuda deste grupo populacional.
O CNS constatou que houve “poucos pedidos de ajuda” às juntas de freguesia por parte dos restantes grupos populacionais, nos quais se incluem as “pessoas sem-abrigo, imigrantes em situação irregular, minorias étnicas, utilizadores de drogas e trabalhadores do sexo”, mas admite que estes grupos podem ter recorrido a outras instituições.
O CNS refere ainda que, no mesmo inquérito, “as juntas de freguesia salientaram a necessidade de uma melhor articulação interinstitucional, a nível local, especialmente com os municípios e os serviços de saúde”, bem como a necessidade de “mais recursos” para atuarem junto da população.
Por isso, defende “uma melhor articulação entre as estruturas da rede social e os serviços de saúde”, para assegurar “maior eficiência na resposta às necessidades, atuais e futuras, criadas pela pandemia Covid-19”.
Em Portugal, morreram 1.455 pessoas das 33.592 confirmadas como infetadas, e há 20.323 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.