Sérgio Aníbal, in Público on-line
Em Portugal, durante o segundo trimestre, o PIB per capita caiu 13,9%, mas o rendimento disponível apenas 3%. Uma tendência que se registou na generalidade dos países e que se explica com os apoios fornecidos pelos Estados.
Nos meses em que, no início da pandemia e das medidas de confinamento, a actividade económica mais caiu a pique, os rendimentos das famílias começaram também a ressentir-se. Mas, ainda assim, revelaram na generalidade dos países avançados, incluindo Portugal, um comportamento menos negativo do que o PIB, um resultado que é explicado pelas medidas mitigadoras postas em prática pelos Estados.
Os dados apresentados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) na passada quinta-feira para 20 dos seus Estados membros revelam bem a diferença que, no arranque desta crise, é possível observar em dois indicadores normalmente sincronizados.
Ao mesmo tempo que o PIB per capita (que mede a produção realizada na economia por habitante) registou, durante o segundo trimestre, uma queda recorde, o rendimento disponível per capita desceu de forma bem mais moderada na generalidade dos países e em alguns casos até continuou a subir.
Na OCDE, em média, o PIB per capita caiu em termos homólogos 10,6%. Mas, ao mesmo tempo, o rendimento per capita das pessoas até subiu 5,3%. A explicação, diz a própria OCDE na nota em que divulga os dados, está nas medidas de apoio anti-covid adoptadas pelos governos.
Neste capítulo, dois países destacam-se: o Canadá e os EUA, este último influenciando de forma muito significativa o resultado registado no total dos países da OCDE. Nestes dois casos, a opção dos governos foi, durante o segundo trimestre do ano, realizar uma transferência única de dinheiro para as famílias, algo que conduziu a que, mesmo num cenário de aumento do desemprego, se registasse no total um aumento do rendimento disponível das famílias. Nos EUA, ao mesmo tempo que o PIB per capita caiu 9,1% em termos homólogos, o rendimento disponível per capita aumentou 10,1%.
O caso português
Noutros países, nomeadamente na Europa, as opções de medidas foram outras, na maior parte dos casos com apoios ao estilo do layoff simplificado aplicado por Portugal, em que os trabalhadores que viram a sua empresa parar, continuaram a receber, com o apoio do Estado, parte do seu salário. Assim, apesar de ter permitido que a queda fosse menor que a queda do PIB, não se conseguiu evitar uma descida do rendimento disponível.
Portugal é um desses exemplos: o PIB per capita caiu 13,9% em termos homólogos no segundo trimestre e o rendimento disponível per capita diminuiu 3%.
Portugal foi, entre os países analisados, um dos que registou uma diferença mais acentuada entre os dois indicadores, o que revela que os apoios do Estado, embora não impedindo uma quebra do rendimento disponível das famílias, produziram ainda assim um efeito mitigador significativo.
No terceiro trimestre, pode vir a assistir-se a uma evolução bem diferente destes indicadores. Com o PIB per capita a recuperar parte do terreno perdido, a evolução do rendimento disponível pode ser agora menos favorável, à medida que o desemprego cresce e os apoios do Estado diminuem.
Por exemplo, nos EUA já não se irá sentir o efeito da transferência de dinheiro feita para as famílias.