5.11.20

Perto de 1,4 milhões de pessoas em Portugal são cuidadores informais

in RR

Os dados são de um inquérito da Associação Nacional de Cuidadores Informais, cujos os resultados são apresentados esta quinta-feira, em Lisboa, no Encontro Nacional de Cuidadores Informais, quando se assinala o Dia do Cuidador Informal.

O número de cuidadores informais em Portugal deverá rondar os 1,4 milhões de pessoas, impulsionado durante a pandemia por causa do fecho de respostas sociais, revela um inquérito nacional segundo o qual estas pessoas deveriam ter mais direitos.

O inquérito é da responsabilidade da Associação Nacional de Cuidadores Informais (ANCI) e os resultados são apresentados esta quinta-feira, em Lisboa, no decorrer do Encontro Nacional de Cuidadores Informais, quando se assinala o Dia do Cuidador Informal.

Em declarações à agência Lusa, uma responsável da ANCI destacou como um dos principais resultados do inquérito o facto de este ter demonstrado que o número de cuidadores informais em Portugal é mais elevado do que os 8% a 10% que se estimava, consequência da pandemia.

“Neste momento, e segundo os resultados do inquérito, este número duplicou e eu julgo que isto tem a ver realmente com o fecho das respostas sociais. Havendo este fecho e esta falta de respostas, o número de cuidadores realmente exacerbou”, apontou Nélida Aguiar.

No inquérito participaram 1.800 pessoas, cerca de metade (52%) das quais afirmou conhecer algum cuidador informal, sendo que 14% afirmou ser o próprio cuidador, enquanto 44,5% disse ser um familiar e outros 26,5% amigos ou conhecidos (23%).

Quase um terço dos inquiridos (28,5%) é ou já foi cuidador informal e 78,5% descreve a função como dar apoio ao doente a tempo inteiro.

“Parece que muitos dos cuidadores informais não têm qualquer tipo de laço familiar com a pessoa de quem cuidam e isso mostra uma realidade que não foi vista, por exemplo, no Estatuto do Cuidador Informal, que apenas reconhece cuidador alguém com laços familiares”, realçou a responsável, membro da direção da ANCI.

O inquérito procurou demonstrar o conhecimento que a população tem do cuidador informal, mas faz também um retrato destas pessoas, que são sobretudo mulheres (64%), com idade entre os 25 e os 54 anos (69,5%), que se tornam cuidadores informais a tempo inteiro.

“Aqueles que eram cuidadores ocasionais deixaram de o ser e passaram a ser cuidadores a tempo inteiro e, mais uma vez, devido ao fecho das respostas sociais que eventualmente existissem, após o confinamento”, apontou Nélida Aguiar.

A responsável diz mesmo que os direitos destas pessoas “não foram de forma nenhuma acautelados”, apontando que durante a pandemia, os cuidadores informais tiveram de enfrentar “ainda mais dificuldades” e sentiram-se “mais esquecidos”, tendo sido essa uma das razões que levou à criação do movimento “Cuidar dos Cuidadores”, que junta já “muitas dezenas de associações” de doentes.

“Todos sabemos que existem milhares de cuidadores em Portugal e têm muito poucos apoios, apesar de enfrentarem enormes desafios, não só económicos, sociais, emocionais, e a verdade é que o estatuto não veio dar resposta a estes problemas”, apontou.

A falta de apoio é, aliás, bastante clara para a quase totalidade dos inquiridos, já que 97,5% defende mais apoios para estas pessoas, sendo que 85,5% entende que deveriam ser apoios financeiros, 71% quer mais apoio ao nível da prestação de cuidados, 68,5% pede apoio laboral, 64% apoio psicológico e 49% apoio legal.

Nélida Aguiar defende que a pandemia não pode ser usada para continuar a atrasar todos os processos burocráticos e sublinha que mesmo antes do aparecimento da covid-19 o estatuto do cuidador informal já não respondia a todas as necessidades e que deveria, por isso, ser revisto.

“Com a pandemia, com a ausência das medidas de apoio, com a falta de acesso aos recursos existentes, com o encerramento das respostas sociais, isso vem demonstrar a imperativa necessidade de implementação de medidas de apoio reais e proteção dos cuidadores”, apontou, acrescentando que se trata de “um grande grupo de pobreza e exclusão social”.

Para a responsável, é, por isso, “imperioso” que sejam identificadas todas as dificuldades, desde o acesso à saúde, o acompanhamento de doentes que dependem de terceiros, a falta de resposta por parte da Rede Nacional de Cuidados Continuados ou a falta de cuidados ao domicílio.