25.2.21

Ecossistema do Impacto: uma tendência mundial e nacional

Rita Ferreira, opinião, in Dinheiro Vivo

De acordo com um estudo da Cone Communications, 75% dos Millennials procura maior propósito no seu trabalho. A remuneração passa a assumir uma importância secundária em relação à necessidade de sentirem que o seu trabalho se alinha com os seus valores e ao sentimento de que estão a retribuir e a acrescentar valor à sociedade. Também nas organizações se verifica uma tendência positiva associada ao Impacto, com 85% das que têm este propósito na sociedade a reportarem crescimento, face a 42% das ditas "mais tradicionais", segundo um estudo da Harvard Business School. O Ecossistema do Impacto e a Inovação Social suscitam cada vez mais interesse, começando a desenhar-se uma tendência mundial.

O IES - Social Business School quis perceber se, também no contexto português, era possível validar esta tendência. Assim, realizamos um estudo que contou com a participação de 61 pessoas, residentes em Portugal, que frequentaram programas nossos associados ao Ecossistema do Impacto, durante o ano de 2020. De acordo com os resultados, obter mais conhecimento sobre o Ecossistema do Impacto (42,6%) constituiu-se como a principal motivação para participar nos programas, sendo que começar um projeto (34,4%), iniciar uma carreira (18%) e mudar para uma carreira no Ecossistema do Impacto (4,9%) foram as motivações que se seguiram. Entre os que pretendiam efetivamente entrar no Ecossistema - fosse através da criação de um projeto, início de uma carreira ou mudança para uma carreira na área - 65,7% tinham já uma ideia de negócio.

De facto, no contacto direto com os nossos alunos - ao longo dos vários programas desenvolvidos em 2020, em áreas como sustentabilidade, envelhecimento ativo, educação, saúde, inclusão, ambiente e economia circular - este "movimento" é cada vez mais notório, não só no que diz respeito ao interesse em construir uma carreira dentro de uma organização do Ecossistema, como também a vontade de ser empreendedor nesta área e gerar um impacto positivo na sociedade.

E este interesse não é exclusivo da geração Millennial. Como mostram as conclusões do nosso estudo, na faixa etária dos 41 aos 50 anos, 75% dos nossos participantes tinham como principal motivação começar um projeto ou iniciar uma carreira no Ecossistema do Impacto. De facto, uns impressionantes 66,7% tinham já uma ideia de negócio aquando da inscrição nos programas. Também na faixa etária dos 51 aos 60 anos, a percentagem é de 33,3% quando nos referimos à fatia relativa a quem queria começar um projeto no Ecossistema do Impacto e que já tinha uma ideia de negócio aquando da inscrição.

É bastante interessante para nós perceber que uma parte considerável dos nossos alunos com carreiras de sucesso no mundo corporate, independentemente da idade, sente vontade/necessidade de entrar neste Ecossistema. Mesmo que a intenção não passe necessariamente por mudar de carreira e iniciá-la numa organização de Impacto ou ainda começar um projeto "a solo", há uma tendência cada vez mais clara para o intraempreendedorismo ou para os chamados CSR Champions (CSR = Corporate Social Responsibility). Ou seja, não só se verifica uma vontade crescente de exercer uma profissão ligada a este Ecossistema, dentro do Ecossistema propriamente dito, como também de levar a responsabilidade social corporativa a outro nível dentro das respetivas empresas/organizações.

É por estas e outras razões que programas como o "PLUG.IN_PACT" - que tem como objetivo ser uma porta de entrada para o Ecossistema do Impacto - assumem um papel tão importante no proporcionar de ferramentas e de bases concretas para a resolução de um problema específico da sociedade. Segundo testemunhos que recebemos após a última edição deste programa, a "possibilidade de conceber a economia de outro modo, de conhecer e usar ferramentas que permitem operacionalizar ideias que têm impacto e criam valor na sociedade" está na base dos benefícios deste tipo de iniciativas que se têm vindo crescentemente a desenvolver no contexto nacional. Para algumas destas pessoas, completos outsiders de áreas como gestão, este tipo de programas podem mesmo ser um "pontapé de saída" para os seus projetos de empreendedorismo social, como conseguimos perceber através de outro dos nossos testemunhos.

A intenção real em envolver-se com este Ecossistema está patente nos resultados do nosso estudo: do total de inquiridos, cerca de 60,7% envolveram-se em um ou mais projetos relacionados com o Ecossistema do Impacto após a participação nos nossos programas. Mesmo entre os participantes que tinham como principal motivação "unicamente" obter mais conhecimento sobre este Ecossistema, uns significativos 57,7% acabaram por se envolver em algum projeto relacionado com Impacto. De uma forma significativa, a totalidade (100%) dos inquiridos que até ao momento não se envolveram em nenhum projeto relacionado com esta área tem interesse em fazê-lo a curto/médio prazo.

É facto que o Ecossistema do Impacto tem gerado cada vez mais curiosidade e que as pessoas já não se contentam em espreitar pela porta entreaberta. Querem, realmente, entrar neste mundo e emergir-se nele. Embora tenha começado este artigo com um dado relacionado com a geração Millennial, esta é uma tendência que já percebemos que não lhes é exclusiva. É uma tendência transversal, sem fronteiras geracionais ou geográficas.

Responsável de Marketing e Comunicação do IES - Social Business School