INE agrava prestação da economia portuguesa no último semestre do ano passado. Procura interna caiu quase 5% em 2020 e exportações mais de 18%.
O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 7,6% em 2020, registando a contração "mais intensa" da atual série de Contas Nacionais do INE, e recuou 6,1% no quarto trimestre, divulgou esta sexta-feira o instituto estatístico.
Nas Contas Nacionais Trimestrais agora reveladas, o INE manteve a variação anual em volume do PIB publicada na estimativa rápida do passado dia 2, mas reviu em baixa, de -5,9% para -6,1%, a taxa de variação homóloga do PIB do quarto trimestre de 2020.
Também revistos foram os resultados provisórios de 2019, tendo o INE efetuado uma revisão em alta de 0,3 pontos percentuais das taxas de variação em volume e em valor do PIB, para 2,5% e 4,3%, respetivamente, em relação às estimativas que tinham sido publicas em 23 de setembro passado, e revisto em +0,3 pontos percentuais as taxas de variação homóloga no terceiro e quarto trimestres de 2019.
Segundo o INE, "em 2020 o PIB registou uma taxa de variação de -7,6% em volume, após um aumento de 2,5% em 2019", sendo esta contração "a mais intensa na atual série de Contas Nacionais, refletindo o efeito negativo extraordinário da pandemia covid-19 na atividade económica".
O Governo apontava para uma contração económica ainda mais acentuada, de 8,5%, enquanto a Comissão Europeia e o Conselho das Finanças Públicas esperavam uma queda de 9,3% do PIB, estando o Fundo Monetário Internacional mais pessimista (-10,0%).
Já o Banco de Portugal (BdP) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) apontavam para uma queda do PIB de 8,1% e 8,4%, respetivamente.
Procura interna cai quase 5%, exportações mais de 18%
De acordo com o INE, "a procura interna foi particularmente afetada" em 2020, registando uma redução de 4,7% em termos reais (após ter aumentado 2,8% no ano anterior), passando de um contributo para a variação anual do PIB de +2,8 pontos percentuais em 2019 para -4,6 pontos percentuais em 2020".
Já o consumo privado (Despesas de Consumo Final das Famílias Residentes e das Instituições Sem Fim Lucrativo ao Serviço das Famílias) registou uma variação de -5,9%, em termos reais, e o Investimento diminuiu 4,9% (variações de 2,6% e 5,4%, respetivamente, em 2019).
Também a procura externa líquida acentuou o contributo negativo em 2020 (-3,0 pontos percentuais, contra -0,3 pontos percentuais em 2019), "refletindo sobretudo a diminuição sem precedente das exportações de turismo".
"As exportações de bens e serviços em volume registaram uma redução de 18,6% em 2020 (crescimento de 3,9% em 2019), destacando-se o impacto da forte redução das exportações de serviços (-34,0%), associada, em grande parte, à quebra sem precedente no turismo", refere o INE, acrescentando que "a componente de bens apresentou uma diminuição de 11,4% em 2020, após o aumento de 3,3% no ano anterior".
Menor foi a contração das importações de bens e serviços, que recuaram 12,0% (aumento de 4,7% em 2019), com as importações de bens a diminuírem 10,3% e a componente de serviços a recuar 20,3% (+4,0% e +8,4% em 2019, respetivamente).
Em 2020, o Valor Acrescentado Bruto (VAB) a preços base registou uma taxa de variação de -6,4% em volume, após ter aumentado 2,4% em 2019, com o VAB dos ramos "comércio e reparação de veículos" e "alojamento e restauração" a diminuir "de forma expressiva" (-12,7%) e a apresentar o contributo mais negativo (-2,2 pontos percentuais) para a variação do VAB total (incluindo impostos líquidos de subsídios).
O emprego (medido em número de indivíduos), para o conjunto dos ramos de atividade, diminuiu 1,7% em 2020, após ter aumentado 0,8% no ano anterior.
Em termos nominais, o PIB diminuiu 5,3% em 2020 (aumento de 4,3% em 2019), situando-se em cerca de 202.700 milhões de euros.
No que diz respeito ao quarto trimestre de 2020, o PIB registou uma contração homóloga de 6,1%, uma taxa inferior em 0,4 pontos percentuais aos -5,7% do trimestre anterior. .
Em termos nominais, o PIB diminuiu 4,1% no quarto trimestre de 2020 face ao mesmo período de 2019 (-4,0% no trimestre precedente).
O INE refere que o contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB foi menos negativo no quarto trimestre, passando de -3,5 pontos percentuais no terceiro trimestre para -2,7 pontos percentuais.
"Esta evolução foi determinada em larga medida, pela contração menos pronunciada do investimento, que se situou em -0,3% em volume no quarto trimestre (-7,2% no trimestre anterior), enquanto o consumo privado diminuiu de forma mais intensa, registando uma variação de -4,8% (-4,1% no terceiro trimestre)", explica.
O consumo público registou um crescimento homólogo de 3,1% em termos reais no último trimestre de 2020, acelerando ligeiramente face ao observado no trimestre anterior (variação de 2,8%), e a procura externa líquida apresentou um contributo de -3,5 pontos percentuais para a variação homóloga do PIB (-2,1 pontos percentuais no trimestre anterior).
As exportações de bens e serviços passaram de uma variação homóloga de -15,9% em termos reais no terceiro trimestre para -14,1%, enquanto as importações recuaram 6,5% no quarto trimestre, após uma variação de -11,0% no trimestre anterior.
No quarto trimestre de 2020, em termos reais, o VAB a preços base registou uma variação homóloga de -4,0% (-4,6% no trimestre anterior) e o emprego (medido em número de indivíduos e ajustado de sazonalidade) diminuiu 0,6%, após uma redução de 2,5% no trimestre anterior.
Na comparação em cadeia, com o trimestre anterior, o PIB aumentou 0,2% em termos reais, "após o expressivo crescimento registado no terceiro trimestre (+13,3%), que se seguiu à contração sem precedente da atividade económica no segundo trimestre (-13,9%) causada pelos efeitos da pandemia covid-19".
O INE atribui este crescimento em cadeia do PIB no último trimestre do ano ao "contributo positivo da procura interna, uma vez que o contributo da procura externa foi aproximadamente nulo".
Quando comparado com o terceiro trimestre de 2020, o investimento total aumentou 2,2% (variação em cadeia de 6,2% no trimestre anterior), verificando-se um contributo da variação de existências para a variação em cadeia do PIB de 0,5 pontos percentuais no quarto trimestre (-0,6 pontos percentuais no período anterior) e um decréscimo da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) de 0,2% (+9,7% no terceiro trimestre).
Comparativamente com o trimestre anterior, as exportações totais aumentaram 6,2% em termos reais, após o crescimento de 39,8% registado no terceiro trimestre, verificando-se uma variação em cadeia de 4,0% na componente de bens e de 13,6% na de serviços.
A variação em cadeia das importações totais passou de 27,2% no terceiro trimestre para 6,0%, tendo as componentes de bens e de serviços aumentado 4,0% e 18,0%, respetivamente.