19.2.21

Jovens com síndrome de Asperger acusam solidão e frustração

Joana Rodrigues Stumpo, in JN

Socialização, durante o confinamento, "tornou-se numa necessidade para muitos, ao invés de um desafio".

Assinala-se, nesta quinta-feira, o Dia Internacional da Síndrome de Asperger, uma perturbação neurocomportamental "que se manifesta por alterações sobretudo na interação social, na comunicação e no comportamento", lê-se no site da Associação Portuguesa da Síndrome de Asperger (APSA).

Num fórum online para assinalar o dia, vários jovens associados à APSA partilharam as dificuldades que a pandemia lhes trouxe, nomeadamente a falta de interações sociais. Patrícia de Sousa, diretora técnica na APSA, salientou que a socialização se tornou numa necessidade para muitos, ao invés de um desafio. A associação trabalha no sentido da inclusão social e profissional dos jovens, através do treino de competências sociais, formação de emprego e ateliers temáticos, como música e artes.

A ausência dos ateliers em regime presencial - sendo que todas as atividades continuam online - é apontada por muitos como uma causa de frustração, uma vez que os deixa com mais tempo livre. Patrícia de Sousa esclareceu que estar em casa durante a pandemia impacta as vidas dos jovens, já que as "atividades presenciais são interrompidas", mas "há continuidade" de crescimento em determinadas aptidões, como a cozinha e outras tarefas domésticas. A necessidade de alterar a rotina foi também apontada como um desafio.

De acordo com os jovens, a APSA contribuiu na criação de mecanismos de socialização, nomeadamente na criação e manutenção de amizades. Um dos jovens apontou como benéfico "o facto de haver pessoas que compreendem" a sua doença.

A APSA ajudou ainda a que os jovens conhecessem mais sobre a síndrome e como lidar com a doença.

Apesar das dificuldades, muitos estão integrados do mercado profissional com a ajuda da APSA, que dá formação profissional aos jovens, através do Programa Empregabilidade, a associação estabeleceu parcerias com empresas, de maneira a facilitar a integração destes jovens no mercado.

Para o futuro, muitos desejam ter um emprego com um salário estável e mais autonomia, com muitos a expressar vontade de viver sozinhos. Apesar das dificuldades na socialização, os jovens expressaram, ainda, o desejo de ter uma relação amorosa.

Piedade Líbano Monteiro, presidente da APSA, sublinhou a importância de eventos deste cariz, uma vez que "falamos muito sobre a síndrome, mas raramente ouvimos as pessoas com a doença". A presidente relembrou que "há muitos obstáculos que se podem ultrapassar desde que haja um conjunto de gente com esse objetivo".

A APSA foi criada em 2003 por vontade de um grupo de pais. Na Casa Grande, um projeto desta iniciativa, são feitas atividades de integração comunitária para jovens a partir dos 16 anos com síndrome de Asperger.