Nuno Rafael Gomes, in Público on-line
Trabalhar a partir de casa, num contexto pandémico, pode ser desafiante para muitos. Já não é novidade, mas, ainda assim, há regras e conselhos deixados por especialistas que podem melhorar esta experiência.
Esta maratona é, também, um caminho de obstáculos. Com mais um período de restrições apertadas que volta a fechar muitos portugueses em casa — e que poderá estender-se Março adentro —, o percurso pode parecer, agora, bem mais moroso. No meio disto tudo, boas notícias: há formas de combater o cansaço e reunimos algumas dicas para que estes dias sejam enfrentados com maior leveza. O P3 já deixou conselhos para manteres uma rotina saudável de estudo durante o confinamento; agora, falamos para quem se encontra em teletrabalho.
Tira o pijama (a sério)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já falou da “fadiga pandémica”. É uma “reacção natural”: afinal, há um desgaste emocional associado aos tempos que se vivem, adversos e incertos. Para além desse “sentimento de cansaço e desmotivação”, pode haver, também, uma “fadiga virtual”, como caracteriza Teresa Freitas. Afinal, estamos sempre conectados. A directora de talentos da EY (uma empresa de serviços profissionais) explica que, para a evitar, “a primeira regra é definir horários e limites” dentro de casa, “de forma a separar a vida pessoal e profissional”. “A autodisciplina é fundamental” para que essa mistura não aconteça. Ou seja: mantém as “rotinas de higiene pessoal” e veste-te para trabalhar (roupa confortável conta). “É mesmo proibido passar o dia em pijama”, frisa Teresa Freitas ao P3. Ao Refinery29, a psicoterapeuta Jennifer Musselman avisou: manteres-te com o pijama vestido “dia após dia define o teu estado de espírito”. “Mantém-te preso, literalmente [a um estado de espírito menos bom].” Já basta estar em casa, não é?
Ao P3, Maria Pico-Pérez, neurocientista e investigadora da Escola de Medicina da Universidade do Minho (UMinho), salienta que “quanto mais semelhante consigamos manter a nossa rotina, menos stressante é a adaptação”. “Devemos continuar a acordar à hora de sempre, mudar a roupa como se fôssemos trabalhar, não estar a olhar para o telemóvel quando estamos a trabalhar.” E, se possível, terminar o dia de trabalho “à hora de sempre”. Já a directora de talentos da EY lembra que “a rotina do passeio higiénico deve ser mantida, assim como uma chamada de vídeo com os amigos”. E também há aulas de ginástica online a que podes assistir — e participar, já agora.
Vá, endireita-te
Antes de te sentares em frente ao computador durante horas a fio, podes caminhar um pouco. Esse é um dos conselhos que a Forbes deixa para que trabalhar em casa não seja tão penoso. Podes não ter saudades de apanhar aquele autocarro ou de enfrentar as filas de trânsito no caminho para o trabalho, mas isso fazia parte do dia-a-dia. Podes encontrar uma forma de te mexeres antes do trabalho, de forma a “simular” essa locomoção, através de uma caminhada, por exemplo. Já vivemos em pandemia há quase um ano, mas nunca é tarde para tentares implementar novos hábitos.
Não tens alternativa a não ser trabalhar em casa? Então é bom que tenhas “uma secretária e uma cadeira adequadas”, já que passarás boa parte do dia sentado, em princípio. Assim, poderás “evitar problemas musculo-esquelécticos que não tardarão a aparecer”, aponta Teresa Freitas. Outra dica: “Preferencialmente, a secretária deve estar virada para uma janela, onde se possa ver o exterior e com isso evitar o sentimento de estarmos fechados.” Caso isso não seja possível, a designer Athina Bluff deixa, num artigo do Independent, uma alternativa: “Tenta pendurar um espelho acima da tua secretária e isto irá imitar o efeito de estar em frente a uma janela.” A designer sugere ainda o vermelho como a cor predominante nos acessórios presentes na secretária, por ser “bastante estimulante”, para além de “acordar o cérebro e aumentar a energia e produtividade”.
A casa encolheu
“Nenhuma casa estava preparada para, em simultâneo, ter ambos os progenitores em teletrabalho e os filhos em aulas online”, opina Teresa Freitas. E “nem toda a gente” tem as “mesmas condições em casa” para que essa transição seja tranquila, nota Maria Pico-Pérez. A investigadora aponta, a título de exemplo, que “há estudos que já mostram que as pessoas com filhos relatam uma menor produtividade no trabalho, o que é expectável”. Mesmo para quem não tem filhos, mas partilha casa com a família ou amigos, a situação é igualmente desafiante. E nem todas as casas são suficientemente grandes.
Teresa Freitas deixa um truque: “Há headsets que isolam o barulho exterior e são fundamentais para conseguirmos partilhar o mesmo espaço sem que estejamos a ouvir quem está connosco.” Não será o ideal para quem está a cuidar dos filhos, mas poderá ajudar outras pessoas.
Em casa, o ideal será ter um espaço unicamente destinado ao trabalho — um quarto livre ou um escritório, por exemplo. Mas muitos não têm divisões vazias em casa para tornar isso possível: num artigo do PÚBLICO de 2020, lê-se que “cerca de 45% das famílias vivem com os filhos”, seja “em situação de conjugalidade” ou “de monoparentalidade”. Assim, nas suas casas, maioritariamente T2 ou T3, todas as divisões estão ocupadas. O que fazer, então? “Outro truque poderá ser a utilização de um biombo ou estante para criar subdivisões dentro da mesma divisão”, responde Teresa Freitas.
De resto, podes utilizar os auscultadores que isolam o barulho se trabalhares na sala de estar, onde outras pessoas que vivam contigo também passam algum do seu tempo. A mesa da cozinha (ou do espaço da casa que seja dedicado às refeições) tem o seu potencial: a altura das mesas costuma ser a ideal para se estar sentado e, normalmente, há espaço de sobra. Ainda assim, terás de abandonar o teu posto de trabalho à hora da refeição. Na cozinha, o frigorífico e o armário das bolachas podem estar demasiado perto.
Trabalhar a partir do quarto pode ser a única opção para muitos, mas não é boa ideia fazê-lo na cama: pode tornar ainda mais difícil desligares-te do trabalho na hora de dormir. O Healthline, citando uma psicoterapeuta, explica o porquê: “Quando usamos a nossa cama para outras actividades, como trabalhar, ler, ver televisão, etc., criamos uma associação com um estado de vigília. Queremos que a cama seja um sinal para dormir e trabalhar na cama enfraquece esta associação.”