Roberto Bessa Moreira, in JN
PSP recebeu no ano passado 38 mil denúncias de vítimas contra as pessoas, dos quais 25 mil por ofensas corporais.
A PSP registou, no ano passado, 38 mil denúncias de crimes contra pessoas, das quais 12 mil foram referentes a violência doméstica contra cônjuge. Números que refletem uma descida relativamente a 2019 e que são justificados pela Polícia com as regras impostas pelo período de confinamento. Ou seja, com restaurantes, cafés e bares encerrados, há menor consumo de álcool, menos saídas noturnas e, consequentemente, menos ciúmes do agressor que, com a vítima isolada em casa, sente que tem o controlo absoluto.
Os dados são esta segunda-feira divulgados pela PSP, quando se assinala o Dia Europeu da Vítima de Crime, e mostram que, das 38 mil denúncias contabilizadas, 25 mil dizem respeito a ofensas à integridade física. E, dentro destas, 12 mil estiveram relacionadas com violência doméstica contra o companheiro ou companheira.
Estes números representam uma descida relativamente a 2019, nomeadamente de 17% nas denúncias de ofensas à integridade física, de 14% na totalidade dos crimes contra as pessoas (que incluem, por exemplo, as ameaças) e de 9% no que concerne à violência doméstica.
Em sentido inverso, a PSP aumentou o número de detenções realizadas. Foram, ao longo de 12 meses, 19 mil, 900 por violência doméstica.
Embora reconheça a existência de cifras negras, provocadas por crimes não participados, a PSP acredita que esta estatística reflete as ocorrências verificadas no país. E aponta o isolamento imposto pelo confinamento como uma das razões para a redução verificada. "Com menos pessoas na rua é normal haver menos crimes", afirma o intendente Hugo Guinote. O coordenador nacional do policiamento de proximidade defende que esta justificação aplica-se, igualmente, à violência doméstica. "Em confinamento, o controlo da vítima por parte do agressor é mais fácil", explica.
Menos álcool influencia
Hugo Guinote acrescenta que o encerramento dos espaços de restauração e bebidas também contribuiu para a diminuição das agressões conjugais. "Há um menor consumo de álcool e menos saídas noturnas por parte de agressores e vítimas. Há, por isso, também menos ciúmes que possam originar casos de violência doméstica", refere.
Mesmo neste contexto, a a Rede Nacional de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica efetuou, entre setembro e novembro, 500 atendimentos, 625 acolhimentos (309 mulheres, 304 menores e 12 homens) e 150 autonomizações.