22.2.21

Bares e cafés fechados fazem baixar casos de violência doméstica

Roberto Bessa Moreira, in JN

PSP recebeu no ano passado 38 mil denúncias de vítimas contra as pessoas, dos quais 25 mil por ofensas corporais.

A PSP registou, no ano passado, 38 mil denúncias de crimes contra pessoas, das quais 12 mil foram referentes a violência doméstica contra cônjuge. Números que refletem uma descida relativamente a 2019 e que são justificados pela Polícia com as regras impostas pelo período de confinamento. Ou seja, com restaurantes, cafés e bares encerrados, há menor consumo de álcool, menos saídas noturnas e, consequentemente, menos ciúmes do agressor que, com a vítima isolada em casa, sente que tem o controlo absoluto.

Os dados são esta segunda-feira divulgados pela PSP, quando se assinala o Dia Europeu da Vítima de Crime, e mostram que, das 38 mil denúncias contabilizadas, 25 mil dizem respeito a ofensas à integridade física. E, dentro destas, 12 mil estiveram relacionadas com violência doméstica contra o companheiro ou companheira.

Estes números representam uma descida relativamente a 2019, nomeadamente de 17% nas denúncias de ofensas à integridade física, de 14% na totalidade dos crimes contra as pessoas (que incluem, por exemplo, as ameaças) e de 9% no que concerne à violência doméstica.

Em sentido inverso, a PSP aumentou o número de detenções realizadas. Foram, ao longo de 12 meses, 19 mil, 900 por violência doméstica.

Embora reconheça a existência de cifras negras, provocadas por crimes não participados, a PSP acredita que esta estatística reflete as ocorrências verificadas no país. E aponta o isolamento imposto pelo confinamento como uma das razões para a redução verificada. "Com menos pessoas na rua é normal haver menos crimes", afirma o intendente Hugo Guinote. O coordenador nacional do policiamento de proximidade defende que esta justificação aplica-se, igualmente, à violência doméstica. "Em confinamento, o controlo da vítima por parte do agressor é mais fácil", explica.

Menos álcool influencia

Hugo Guinote acrescenta que o encerramento dos espaços de restauração e bebidas também contribuiu para a diminuição das agressões conjugais. "Há um menor consumo de álcool e menos saídas noturnas por parte de agressores e vítimas. Há, por isso, também menos ciúmes que possam originar casos de violência doméstica", refere.

Mesmo neste contexto, a a Rede Nacional de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica efetuou, entre setembro e novembro, 500 atendimentos, 625 acolhimentos (309 mulheres, 304 menores e 12 homens) e 150 autonomizações.