22.2.21

Universidades querem programa de compra de computadores igual ao das escolas

Samuel Silva, in Público on-line

Escola Digital deve ser alargado ao superior no Plano de Recuperação e Resiliência, propõem reitores, que também querem ver no documento verbas para investigação “de interesse público”.

As universidades entendem que o programa Escola Digital, através do qual estão a ser compradas centenas de milhares de computadores para os alunos da escolaridade obrigatória, deve ser alargado ao ensino superior. Esta é uma das alterações ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) vai propor ao Governo. As instituições de ensino também querem poder liderar projectos de inovação, o que está reservado apenas a empresas na versão do documento que está em consulta pública.

O presidente do CRUP, António Sousa Pereira, lembra que nas universidades “também existem problemas tecnológicos”, atendendo a que nos últimos anos foi escasso o investimento em equipamento, e existem igualmente “dificuldades em chegar a alguns estudantes” por não terem computador ou ligação à Internet, à semelhança do que acontece no ensino básico e secundário. Dificuldades como estas justificam que o programa Escola Digital seja alargado ao ensino superior, defende.

As universidades precisam não só de computadores – para reequiparem as suas instalações, mas também para os estudantes – como de um programa de formação dos professores para o ensino digital, semelhante ao que tem vindo a ser feito pelo Ministério da Educação.

O CRUP lamenta, por isso, que as universidades estejam ausentes da agenda de transição digital, para o qual o PRR prevê 2,8 mil milhões de euros. “Não há razão para que o ensino superior seja deixado de fora”, entende Sousa Pereira. As instituições de ensino pretendem “concorrer em igualdade de circunstância com os outros organismos da administração pública e com outros graus de ensino” ao financiamento que venha a estar disponível.

Estas propostas vão ser apresentadas ao Governo, no âmbito da consulta pública do PRR, que está aberta até 1 de Março, e também num webinar, nesta segunda-feira, onde estarão presentes o ministro da Ciência e Ensino Superior, Manuel Heitor, a comissária europeia Elisa Ferreira e o próprio coordenador do PRR, António Costa e Silva.

O descontentamento dos reitores com o PRR não é novo. Quando tomou posse como presidente do CRUP, em Novembro, Sousa Pereira já tinha criticado o documento que, na primeira versão, deixava as universidades completamente de fora. Nos últimos meses, houve negociações com o Governo que permitiram incluir, por exemplo, uma previsão de 375 milhões de euros destinados a criar 15 mil camas no alojamento estudantil – recuperando os objectivos do Plano Nacional de Alojamento do Ensino Superior.
Candidaturas a financiamento

As universidades também passaram a candidatar-se a financiamento no âmbito do programa de melhoria da eficiência energética de edifícios públicos e das iniciativas Impulso Adultos (actualização de competências de trabalhadores no activo) e Impulso Jovem STEAM (aumento do número de jovens com formação superior em áreas de ciências, tecnologias, engenharias, artes e matemática. “Já houve uma melhoria muito grande em relação ao documento inicial”, reconhece o presidente do CRUP, mas “fica algum amargo de boca, porque seria possível ir muito mais longe”.

O CRUP vai também propor a inclusão no PRR de “agendas mobilizadoras de interesse público”, um conjunto de áreas consideradas estratégicas para as quais deve ser canalizado investimento em investigação básica. São temas como a previsão de catástrofes naturais, saúde pública ou os efeitos das alterações climáticas, “problemas que podem surgir de um dia para o outro e que, quando surgirem, precisam que haja trabalho feito”, explica António Sousa Pereira, dando como exemplo as vacinas contra a covid-19 que ficaram prontas em tempo recorde porque na década anterior tinha havido investimento no desenvolvimento da tecnologia do RNA mensageiro em que se baseiam algumas das opções que chegaram ao mercado.

Outra das alterações ao plano que é apresentada prende-se com a componente de investimento e inovação. As universidades não querem ser “parentes pobres” e querem poder também liderar projectos, uma prerrogativa reservada às empresas na actual versão do documento. No fundo, trata-se de seguir um modelo que já foi usado pela Agência Nacional de Investimento em grandes projectos de translação de conhecimento que envolveram instituições de ensino superior, centros de investigação e grandes empresas, explica o líder dos reitores.