25.2.21

Desemprego aumenta para níveis de 2017. Estes são os concelhos mais afetados

Cátia Mateus, Sofia Miguel Rosa, in Expresso

Depois da inversão da tendência de descida registada em Dezembro de 2020, o número de inscritos nos centros de emprego do continente continuou a aumentar e atingiu em janeiro o número mais elevado desde o início da pandemia, regressando a máximos de 2017. O primeiro mês do ano fechou com mais de 424 mil desempregados registados. A região de Lisboa e Vale do Tejo responde por quase metade do aumento do desemprego registado no último mês, mas há 12 concelhos do país onde o número de desempregados quase duplicou face ao início da pandemia.

O ano começou negro em matéria de desemprego no país, com o número de desempregados inscritos nos serviços públicos de emprego do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) a atingir em janeiro os 424.359. É o número mais elevado desde o início da pandemia e é mesmo necessário recuar até maio de 2017 para encontrar um nível de desemprego registado desta ordem. O aumento do desemprego em janeiro não é atípico, a subida colhe os efeitos da sazonalidade de dezembro. No entanto, o aumento registado este ano é mais expressivo do que o habitual e penaliza, sobretudo, mulheres, jovens e trabalhadores da região de Lisboa e Vale do Tejo.

Os números esta semana divulgados pelo IEFP, relativos a janeiro de 2021, traduzem um aumento de 5,5% no número de desempregados inscritos nos centros de emprego nacionais face a dezembro de 2020. São mais 22.105 pessoas em cadeia, ou seja face ao mês anterior, e mais 103.801 (32,4%) tendo como referência o mesmo mês de 2020, período pré-pandemia. Numa nota enviada às redações, o Ministério do Trabalho Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) destaca que "o número de desempregados registados aumenta sempre de dezembro para janeiro, com uma variação média entre os dois meses de 3,5% desde 1989". A variação registada entre dezembro do ano passado e o primeiro mês deste ano é, no entanto, bastante mais expressiva, 5,5%.

Tal como nos meses anteriores, marcados pelos efeitos da pandemia no mercado de trabalho, a não renovação de contratos foi a principal alavanca para a situação de desemprego. De um total de 46.986 novas inscrições registadas ao longo do mês, 52,5% resultaram da não renovação de contratos não permanentes. O despedimento foi o segundo motivo, reportado por 16,3% dos novos desempregados inscritos. Ao todo 7.663 trabalhadores reportaram ter sido despedidos pelo empregador e este é o número mais elevado desde maio deste ano, embora o pico de despedimentos tenha sido atingido em abril, com cerca de 16 mil desempregados a identificar este motivo.
LISBOA E VALE DO TEJO É A REGIÃO COM MAIOR AUMENTO DO DESEMPREGO

O desemprego registado aumentou transversalmente em todas as regiões do país, mas foi em Lisboa e Vale do Tejo que fez mais vítimas no primeiro mês do ano (ver infografia). A análise da variação em cadeia (face ao mês anterior) dos dados divulgados pelo IEFP sinaliza que a região responde por quase metade do aumento do desemprego registado. Na Grande Lisboa, o número de desempregados inscritos aumentou 8% face a dezembro, o que corresponde a um acréscimo de 10.017 desempregados. O Algarve é a segunda região na lista com um aumento do desemprego de 7,2%, seguida do Norte do país com uma subida de 4,9% em cadeia.

Em termos homólogos, as contas são diferentes. O aumento mais pronunciado ocorreu na região do Algarve (mais 61,3%), seguido de Lisboa e Vale do Tejo (mais 45,3%) e da região da Madeira (mais 30%). Já se o mês de referência for fevereiro de 2020, o último mês livre dos impactos da pandemia, o Algarve teve um aumento de 75% no desemprego registado e só depois surge Lisboa e Vale do Tejo, com um acréscimo do número de desempregados de 46,3%.

VARIAÇÃO DO DESEMPREGO DURANTE A PANDEMIA

Variação, em percentagem, do desemprego registado entre fevereiro de 2020 e janeiro de 2021

Os indicadores esta semana divulgados pelo IEFP ficam ainda marcados por um aumento dos concelhos onde os níveis de desemprego registado aumentaram acima dos 75% desde o início da pandemia. Eram cinco os concelhos que em dezembro estavam nesta situação - Odivelas, Castro Verde, Loulé, Faro e Albufeira - e são agora 12. Em dois deles, Odivelas e Faro, o desemprego mais do que duplicou face ao registado em fevereiro. Em Castro Marim e Loulé o aumento é de 99,4% e 90,7% respetivamente, num ranking que é dominado por concelhos de Lisboa e do Algarve.

Apesar do agravamento do desemprego que se torna visível neste retrato mensal que o Expresso realiza com base nos indicadores do IEFP, continua a haver boas notícias. 32 concelhos do país continuam a registar níveis de desemprego registado inferiores aos de fevereiro de 2020.

DESEMPREGO REGISTADO POR CONCELHO

Os dados esta semana divulgados pelo serviço público de emprego mostram que as mulheres e os jovens estão a ser os mais afetados pela crise que a pandemia está a gerar no mercado de trabalho. 59% do aumento do desemprego registado ocorreu entre as mulheres. E entre os jovens com idades entre os 25 e os 34 anos o aumento do número de desempregados foi de 6,7%, o maior entre os vários grupos etários.

O IEFP indica ainda que, em termos de grupos profissionais dos desempregados registados no Continente, salientam-se os mais representativos, por ordem decrescente: “Trabalhadores não qualificados“ (24,9%); “Trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção, segurança e vendedores” (22,8%); "Pessoal administrativo" (11,6%); "Especialistas das atividades intelectuais e científicas" (10,2%) e "Trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices" (10,0%)".