Por: Paula Gonçalves Martins, in TVI24
Portugueses trocam carne de vaca por porco e aves; vinho, cerveja e refrigerantes por água; marisco por peixe congelado a granel. Nos cereais, bolachas e iogurtes, só compram o básico, que é mais barato
A Fundação Francisco Manuel dos Santos lançou esta terça-feira o portal «Conhecer a Crise». Aqui serão compilados indicadores sobre as mais variadas vertentes da economia, que permitirão aos utilizadores perceber melhor os verdadeiros efeitos da crise.
O portal permite analisar dados sobre temas tão variados como as despesas das famílias, o apoio social, a conjuntura económica ou o trabalho. Alguns dos dados são surpreendentes.
No que toca à mudança de hábitos de consumo, uma das alterações mais significativas nota-se ao nível dos produtos alimentares. É absolutamente visível a tendência de trocar produtos mais supérfluos por bens de primeira necessidade. O mais barato sobrepõe-se. É a prova de que «os portugueses estão a resistir e a adaptar-se à crise. Estão a mudar de hábitos e a desenvolver estratégias para se defender», afirma o sociólogo António Barreto, da Fundação.
Sabia que:
- o consumo de carne de vaca travou a fundo, e que o de carne de porco e aves, mais baratas, registou fortes crescimentos?
- o marisco vende menos, mas há um forte crescimento do peixe congelado a granel, mais indiferenciado e mais barato?
- o consumo de cerveja, vinho e refrigerantes está em forte queda, substituído pelo crescente consumo de água?
- o consumo de leite caiu 4,5% no último trimestre de 2010, ditado sobretudo pela menor procura de leites achocolatados, aditivados, que recuaram 7,9%, ao passo que o leite básico desceu apenas 3,7%?
- o consumo total de bolachas baixou 3,5%, mas as bolachas básicas até cresceram 0,4%. As restantes (com chocolate, com fruta, cobertas ou recheadas, por exemplo) baixaram 6,5%?
- os iogurtes básicos vendem mais 1,7%, os outros descem 3,8%?
-s cereais básicos disparam 9,9%, os outros apenas crescem 0,2%?
- as marcas próprias das cadeias de super e hipermercados mostram uma tendência crescente e em 2011 representaram 46% do total de vendas?
- apesar dos cortes anunciados, o número de beneficiários de abono de família cresceu e em fevereiro deste ano atingiu 1.156.526?
- os beneficiários do rendimento social de inserção aumentaram para 322.919 e o valor médio cresceu para 91,2 euros?
- os beneficiários do complemento social para idosos cresceram para 235.181 e que cada um recebe em média 109,4 euros?
- apesar da crise, a confiança dos consumidores está a melhorar e o valor dos depósitos bancários mantém o mesmo crescimento?
- a região do país com maior taxa de malparado é a de Faro, a mesma onde a taxa de desemprego é mais elevada?
- já há menos de 5 milhões de pessoas a trabalhar em Portugal?
- apenas 17,6% dos contratos de trabalho em Portugal são a prazo?
O portal http://www.conheceracrise.com permite conhecer estes dados e muitos outros, cruzar os indicadores que lhe interessam e fazer a sua própria análise da crise.
Na apresentação do portal, António Barreto sublinhou a existência de algum exagero nas notícias sobre a crise e as suas consequências, afirmando que os portugueses não estão a morrer com a crise e que protestam menos que os gregos porque estão ocupados a procurar soluções para a sua vida.


