por João Madeira, in Sol
É consensual entre os economistas que o desemprego implica perdas económicas. Mas a instabilidade social gerada pela falta de trabalho, sobretudo no início da vida activa, também gera custos para a sociedade, embora mais difíceis de quantificar.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) alerta que fenómenos como o consumo e o tráfico de drogas, a violência e os gangues estão associados a elevados níveis de desemprego jovem, como os que se verificam em Portugal.
O SOL questionou a organização das Nações Unidas, especializada em questões laborais, sobre as consequências de um nível elevado de desemprego jovem, como o que Portugal regista. Um terço da população activa do país com menos de 25 anos está sem trabalho e o cenário tem vindo a piorar de trimestre para trimestre. Segundo o Eurostat, Portugal é o terceiro país da Europa com mais desemprego naquela faixa etária, a seguir à Grécia e à Espanha.
Houtan Homayounpour, do Programa de Emprego Jovem da OIT, admite que, «a um nível global e nacional, a crise do emprego jovem impõe um custo elevado». O desemprego prolongado no início de vida prejudica de forma permanente a empregabilidade, os salários e o acesso a empregos de qualidade, explica o responsável.
Para os Estados, há um desperdício dos investimentos em educação e formação, uma redução na cobrança de impostos e custos mais elevados com transferências sociais, além de haver menos apoio à classe política por parte dos votantes mais jovens.
O desemprego jovem e os empregos mal remunerados contribuem para níveis elevados de pobreza, realça Houtan Homayounpour. «Os custos de negligenciar a juventude podem ser medidos em termos de esgotamento do capital humano e social», diz, acrescentando que perdas de oportunidades de crescimento económico aumentam à medida que este grupo de trabalhadores não ganha experiência de trabalho.
Mas, além dos custos económicos que podem ser medidos, a OIT alerta que «é mais difícil medir os custos da instabilidade social». A exclusão social nos jovens tem maior probabilidade de incorrer em comportamentos de risco, como o abuso e o tráfico de drogas, crime, violência e gangues, refere o especialista.
A juventude que não está nem a trabalhar nem a estudar está fortemente associada ao risco de violência e de crime, mostra estudo recente na América Latina, acrescenta.
Iniciativas do Governo são «óptimas»
O Governo anunciou, recentemente, um programa para combater o desemprego jovem, que prevê medidas como incentivos a estágios de jovens, programas de formação para jovens desempregados e para o auto-emprego. Homayounpour considera que estas iniciativas são «óptimas», embora entenda que podem ser levadas a cabo outras acções.
Sugere que seja delineada uma estratégia integrada para o crescimento e para o emprego, com objectivos claros quanto ao investimento e à criação de empregos. O investimento em educação e formação de qualidade deve ser outra prioridade do governo, que deve trabalhar em conjunto com o sector privado para reduzir o desencontro entre as competências das pessoas e as necessidades do mercado.
O especialista defende ainda um conjunto de incentivos, serviços e parcerias que, de alguma forma, já fazem parte do plano do Governo, nomeadamente, parcerias com agências de emprego privadas, subsídios à contratação ou serviços de aconselhamento de carreira. O Executivo criou a figura do gestor de carreira e já admitiu que pode vir a financiar agências privadas de emprego para colocação de desempregados