4.3.12

Falta de dinheiro impede famílias de retirar idosos

in Diário de Notícias

A falta de dinheiro e tempo impede muitas famílias de retirar os idosos dos hospitais após a alta clínica, embora continuem a visitá-los, uma situação que está a aumentar em várias instituições, segundo os serviços sociais hospitalares.

Já os casos em que as famílias abandonam propositadamente os idosos no hospital são pontuais, mas são difíceis para as técnicas que os acompanham.

Uma assistente social de um hospital em Lisboa, que preferiu o anonimato, conta à Agência Lusa o caso de uma octogenária que foi abandonada pelos familiares e morreu ao fim de 11 meses de internamento.

"Morreu vítima do abandono familiar. Deixou de falar, de comer. Desistiu de viver", lamenta, contando que o corpo da idosa, que deixou uma grande herança aos familiares, teve de ser reconhecido pela assistente social da instituição que a acompanhava antes de ser internada, senão era enterrada como uma indigente.

Relativamente aos doentes que permanecem internados por motivos sociais, vários hospitais disseram que se trata de pessoas que vivem sós ou são idosos com idades muito avançada e cujo cônjuge ou familiares não têm disponibilidade para os acolher por motivos profissionais ou económicos.

Há ainda o fator distância, que dificulta também este apoio, pois nem sempre os familiares residem nas mesmas localidades.

"A nossa realidade mostra que a maior parte das famílias não abandona os seus idosos, procura sim respostas, que nem sempre surgem com a rapidez desejável para o doente, família e para o hospital", segundo os Hospitais da Universidade de Coimbra, que regista atualmente dois casos destes.

No Hospital Fernando Fonseca os casos de abandono são "pontuais". O que está a aumentar, segundo a coordenadora do serviço social, são as situações de doentes internados por "motivos sociais".

Atualmente estão nestas condições 38 adultos e quatro menores, adianta Adélia Gomes, acrescentando que, em média, as situações de protelamentos de alta clínica por motivo social, maioritariamente idosos, corresponderam a 30 situações em 2009, 42 em 2010 e a 44 em 2011.

Também o Hospital de Évora registou "um aumento de casos de protelamento de alta", que não significam situações de abandono.

"Residualmente, existem casos pontuais em que os familiares não estão disponíveis para receber o doente após a alta. Nestes casos, o doente permanece no hospital até ser encontrada uma resposta", adianta.

O Hospital de Faro registou este ano 17 casos, três dos quais por abandono familiar. Um já foi acolhido numa instituição.

Cinco foram integrados na rede de cuidados continuados, quatro faleceram e seis aguardam vaga em instituição. Há ainda os casos de dois sem-abrigo, um dos quais faleceu.

Ao contrário destas instituições, o Hospital de Santa Maria observou uma diminuição destes casos em 2011, assinalando 113, menos 22,1% face a 2010.

O Centro Hospitalar de Lisboa Central (São José, Capuchos, Santa Marta e Dona Estefânia) tem vindo a registar menos casos, embora tenha verificado "um aumento pouco significativo em 2011".

Este Centro Hospitalar registou 340 casos em 2009, 270 em 2010 e 279 em 2011. Este ano, já registou 32 situações, que demoram em média 1,5 meses para resolver.

Nos hospitais Egas Moniz e São Francisco Xavier não há casos de abandono, porque após uma semana de internamento sem justificação, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa faz o encaminhamento dos casos. O mesmo se passando no Hospital de Matosinhos devido à articulação com a Segurança Social.